Um dado assustador foi divulgado pela Associação Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), com base na plataforma Datasus, do governo federal: o número de amputações de pés e pernas no país aumentou 53% de 2012 para cá. Os índices explodem ainda mais se a comparação for feita com o ano de 2021, no auge da pandemia.
Para se ter uma noção desse drama, 10 anos atrás o número de amputações de pés ou pernas no Brasil era de 1.576 por mês, ou seja, uma média de 58 cirurgias desse tipo por dia. No ano passado, a taxa cresceu para 2.409 retiradas desses membros, com média de 79 procedimentos do gênero diariamente. Se analisada por hora, a marca é ainda mais aterradora: três cidadãos no país têm o pé ou a perna amputados a cada 60 minutos.
Para especialistas, o aumento significativo de pacientes que precisam seccionar partes dos membros inferiores está diretamente relacionado ao agravamento de doenças como a diabetes, insuficiência renal, hipertensão e a chamada dislipidemia, que é o crescimento dos indicadores de triglicérides e do colesterol. No entanto, o diabetes é o maior e principal responsável por amputações.
A pandemia, em vias gerais, fez com que as pessoas negligenciassem o controle dessas enfermidades. Preocupadas em não se contaminar e com as já difíceis consultas médicas sendo suspensas ou adiadas, a maior parte dos brasileiros acabou não mantendo o controle adequado dessas doenças e, no caso do diabetes, seus níveis elevados podem gerar um processo de não cicatrização e mesmo de infecção em feridas que venham a acometer os pés ou as pernas, levando à extirpação do membro.
A Covid-19 também é um dos fatores que provavelmente influenciaram nesse aumento gritante de amputações, já que um dos problemas causados pelo Sars-Cov-2 em muitos pacientes é a trombose, sobretudo nos membros inferiores. Uma redução dos níveis imunológicos por inúmeras razões durante o confinamento e aumento no consumo do tabaco são outras variáveis que devem ser consideradas no que diz respeito à explosão dos casos de secção de pés e pernas no Brasil.
As regiões Nordeste e Sudeste foram as que apresentaram o maior número de amputações de membros inferiores no período de um ano, com destaque para alguns estados, não necessariamente da região, onde os casos tiveram um salto muito maior, como Alagoas (173%), Roraima (160%), Ceará (146%) e Rondônia (116%).