Um vídeo mostrando o capitão Vander Duarte, da Polícia Militar de Araçatuba (SP), dançando soul music viralizou nas redes sociais, mas a internet ficou um pouco confusa. Várias pessoas parabenizaram o policial pela iniciativa, alegre e fagueira, o que contrasta com a imagem que se tem da Polícia Militar. No vídeo, que é uma live onde pede doações de alimentos para entidades carentes e associações de bairros, o policial, que nasceu e cresceu no Jardim Irene, em Santo André, pede música e diz “Vamos lá, um pouquinho de passos, ó! Pessoal do charme dance, da black music. É isso aí, ó!”
A atitude inusitada do policial lhe rendeu diversos elogios na internet, mas também levou muita gente a fazer uma reflexão: para defender a lei e proteger os cidadãos, os PMs têm mesmo que serem brutos, andarem sempre com uma cara amarrada, prontos a desferirem golpes de cassetetes em manifestantes, estudantes e trabalhadores? Esses mesmo policiais que dançam funk, cantam rap e tocam pagode, filhos da periferia, não precisavam ter uma maior identificação com as comunidades em que moram e atuam?
O influenciador Ad Júnior publicou um frame do vídeo em sua conta no Instagram e comentou: “Este é um dos maiores exemplos de como nossa sociedade é complexa e precisa ser analisada com mais cuidado”.
"É um exemplo de como muitos dos nossos algozes, quase sempre vieram do mesmo lugar que a gente. Que eles sabem quem somos e que eles consomem a nossa cultura. O sistema engole alguns que se esquecem de onde vieram e transformaram pessoas como nós em nossos maiores inimigos. E isso não é culpa da pessoa, é como o sistema foi desenhado, é pobre oprimindo pobre. Ou você conhece algum filho de rico que sonha em ser policial?", questionou Júnior.
Esse não é um caso isolado. Há diversos vídeos de policiais militares, fardados, cantando pagode na periferia, dançando funk, fazendo rap, andando de skate, enfim, emitindo conhecerem e se reconhecerem em manifestações culturais típicas da periferia.
No entanto, quando estão em serviço, na “quebrada” eles botam para quebrar. Também no Instagram o perfil @sanchafaustino comentou o vídeo: “Sou Capitão da Polícia Militar do meu estado e de fato é muito complexo, mas nem todos os militares negros que estão no sistema, a pergunta seria quem não está, não se vê enquanto negro e pensa em causas raciais/sociais. Reflito todos os dias e a complexidade se dá porque vivemos em uma sociedade militarizada cuja política também é militarizada. Penso sempre que eu estando aqui serei uma que trabalharei com honestidade, não me apegando a estereótipos, fazendo reuniões com a Comunidade para que ela saiba que Polícia não é solução, mas sim Políticas de Segurança Publica. Enquanto o policial não for visto como humano, por ambas as partes, Instituição e Sociedade, nada mudará.”
No Youtube, o vídeo foi reproduzido em várias contas, numa delas Sidney Farias comenta: “Parabéns Capitão! Ato Nobre, precisamos de uma Polícia mais com identidade do povo.”
A Fórum conversou com um policial militar antifascista do Distrito Federal, que não quis se identificar, e ele afirmou que “infelizmente a polícia militar não tem feito nada para limpar essa péssima imagem que tem na sociedade, na verdade a polícia tem se esforçado muito pra mostrar que é fascista, misógina e racista, infelizmente, embora esses exemplos isolados sirvam de exemplo".
Ad Júnior finalizou seu comentário fazendo uma reflexão: “vocês estão mais próximos da gente e são mais parecidos conosco, do que com o sistema que vocês juraram proteger... e sobre a dancinha do capitão: Num é que ele dança bem? Eu adorei!”
Por que a polícia não melhora sua imagem com as comunidades ao invés de monstrificar suas corporações?
PM de Minas gerais também manda seu recado: