A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), ao divulgar o currículo do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, se utilizou do fato do economista ser negro para atacar a política de cotas raciais, que tem por objetivo reparar a desigualdade histórica a que a população negra está submetida no acesso à educação.
"E aí, @tabataamaralsp - vai ter "coragem" de criticar o novo ministro? Sabia que ele não precisou de cota para conseguir este currículo?", tuitou a bolsonarista na tarde desta quinta-feira (25).
A declaração de Zambelli não foi bem recebida por parte dos usuários das redes sociais. "Que nojo de pessoa", tuitou uma internauta. "Miserável", postou outro.
O teólogo e ativista negro Ronilso Pacheco foi um dos que criticou a postura da deputada. ''Carla Zambelli cumpre a cartilha da racista perfeita. Usa a imagem e a história de um homem negro como moeda, uma coisa, um escudo humano pra dizer 'não somos racistas'. Como a madame que mostra o seu animal de estimação e suas qualidades. Nossa... é desprezível".
Novo ministro
Decotelli esteve nos bastidores do governo desde o período da transição por indicação dos militares e comandou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) entre fevereiro e agosto de 2019. Bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, Decotelli é financista e foi criador de cursos de MBA, Gestão Financeira Corporativa e Finanças Corporativas.
Oficial da reserva da Marinha, o novo ministro representa mais um avanço dos militares sobre pastas chave do governo. Desde o início do mandato de Bolsonaro, a farda tomou conta da Casa Civil (Walter Braga Netto), da Saúde (Eduardo Pazuello) e agora da Educação, além das pastas já dominadas pelos militares. No total, são 11.
O economista também é próximo do círculo de Paulo Guedes, ministro da Economia. Os dois atuaram juntos na criação dos cursos de MBA em Finanças no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC).
Levantamento realizado pelo Metrópoles em agosto do ano passado mostra que entre 5 de fevereiro e 24 de agosto, Decotelli fez uma viagem a cada quatro dias em que esteve no comando do FNDE – 38 dos 169 dias. Segundo o Portal da Transparência, o governo federal desembolsou R$ 67 mil com os deslocamentos.