Vaza Jato: Empresária que doou para Dallagnol se livrou de condenação na Lava Jato

Dallagnol fez a ponte de empresária com o Mude, instituto criado para levantar a bandeira das 10 Medidas contra a Corrupção e que seria dirigido “nas sombras” pelo procurador; ela seria poupada na Lava Jato três anos depois

Deltan Dallagnol - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Mensagens trocadas pelo procurador Deltan Dallagnol e membros do Instituto Mude reveladas em reportagem da Vaza Jato publicada pela Agência Pública em parceria com o The Intercept Brasil demonstram que o coordenador da Lava Jato encaminhou doações de dona de empresa que seria investigada na Lava Jato para o Instituto Mude. A doadora, que atuava com fretamento de navios para a Petrobras, seria poupada na operação anos depois. O instituto foi criado para levantar a bandeira das 10 Medidas contra a Corrupção e seria dirigido “nas sombras” por Dallagnol, que não queria aparecer tomando posições públicas, como a do pedido de impeachment contra ministros do STF. Nas conversas reveladas nesta segunda-feira (2) ele aparece estabelecendo um elo entre a advogada Patrícia Tendrich Pires Coelho, dona da Asgaard Navegação - fornecedora navios para a Petrobras -, e integrantes formais da organização. Em mensagem enviada no dia 29 de julho de 2016 a uma integrante do Mude, Patrícia Fehrmann, Dallagnol conta sobre o encontro com a potencial doadora. “Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela, estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”, disse. Um mês depois, um dos fundadores do instituto, Hadler Martines traria um alerta no grupo "#Mude Delta,Fáb,Pat,Had,Mar", formado pelos líderes do Mude: "Talvez vocês já tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários nacionais. Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção: – sua empresa fornece navios para a Petrobras; – ela é ex-banco Opportunity (famoso Daniel Dantas) – ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e também do André Esteves (BTG)". O recado de Martines foi ignorado por Dallagnol, que devia já ter conhecimento dos elos da empresária com a Lava Jato. Em 8 de setembro aconteceu o encontro em que estiveram presentes todos os membros do chat - o procurador, Fábio Oliveira, Patrícia Fehrmann, Hadler Martines e o pastor Marcos Ferreira. Três dias depois, o incômodo de Hadler voltou a ser lançado no grupo. "Sobre nossa reunião com o Anjo, ainda estou com uma pulga atrás da orelha tentando entender a razão do apoio financeiro tão generoso (sendo cético no momento). Me pergunto se ela quer ‘ficar bem’ com o MPF por alguma razão… Ela já foi conselheira do Eike e pelo que li dela, ela o representava em algumas negociações", comentou, lançando ainda um link de uma reportagem da Exame que citava Patrícia Coelho. No grupo, Deltan tentou amenizar a desconfiança, mas acionou Roberto Pozzobon para saber se havia envolvimento de Coelho em alguma denúncia. Não houve uma resposta precisa naquele momento. A confirmação só viria mais de uma no depois e o próprio Deltan informou aos colegas. “Caros, uma notícia ruim agora, mas que não quero que desanime Vcs. A Patricia Coelho apareceu numa petição nossa e me ligou. Ela disse que tinha sociedade com o grego Kotronakis (um grego que apareceu num equema de afretamentos da petrobras e que foi alvo de operação nossa), mas ele tinha só 1% e ela alega que jamais teria transferido valores pra ele… Falei que somos 13, cada um cuida de certos casos, que desconheço o caso [...] Ouvindo sobre o caso superficialmente, não posso afirmar que ela esteve envolvida ou que será alvo, mas há sinais ruins. É possível que ela não tenha feito nada de errado, mas talvez seja melhor evitar novas relações com ela ou a empresa dela, por cautela”, escreveu. A operação avançou, mas Patrícia Coelho acabou poupada de uma denúncia do MPF enquanto seus sócios Ney Suassuna (ex-senador pelo MDB) e Georgios Kotronakis, filho do ex-cônsul honorário da Grécia no Rio de Janeiro, Konstantinos Kotronakis, foram para o banco dos réus. Na reportagem, Dallagnol também aparece negociando outras doações para o Instituto. Confira na Agência Pública a íntegra.