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Apesar de ter conhecimento ao menos desde 2016 sobre a atuação de banqueiros no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol postergou a intenção de abrir investigação e desistiu de vez da ideia após ser contratado por mais de R$ 10 mil pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para dar palestra sobre "prevenção e combate a lavagem de dinheiro" na entidade.
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Segundo nova reportagem da Vaza Jato, divulgada nesta quinta-feira (22) pelo jornal El Pais, em parceria com o site The Intercept, no dia 15 de outubro de 2018, Dallagnol demonstrou pela última vez preocupação no envolvimento de bancos na Lava Jato. “Estou preocupado com relação aos nossos passos em relação aos bancos”, escreve ele no chat Filhos do Januario 3. “Eu acho que eles vão se mover e vão mudar nosso cenário, via lei ou regulação (coaf, febraban…). São muito poderosos”.
Dois dias depois, Dallagnol ministrou a palestra na federação dos bancos e não tocou mais no assunto. Pela conversa com os banqueiros, o procurador recebeu 18.088 reais líquidos, quase metade do que ganhou naquele mês inteiro de trabalho: 22.432 reais de salário líquido, segundo o Portal da Transparência.
Inquérito em acordo
Ainda de acordo com a reportagem, em 21 de outubro de 2016, Dallagnol sugeriu a instauração de um Inquérito Civil Público (ICP) para apurar as falhas de compliance dos bancos, com o objetivo de “pintar tempestade na portaria”, ou seja, solicitar informações sobre investigações internas e assim pressionar o setor a negociar.
"Fazer uma ação contra um banco pedindo pra devolver o valor envolvido na lavagem, ou, melhor ainda, fazer um acordo monetário, é algo que repercutiria muito, mas muito, bem", escreveu Dallagnol a Carlos Fernando Lima perguntando quais eram as “violações de grandes bancos" mais evidentes que eles tinham.
Porém, a ideia foi abandonada pelo chamado "risco sistêmico", que supõe um possível efeito dominó para a economia.
Essa mesma lógica não valeu para as construtoras. Segundo um levantamento do jornal Valor Econômico, a receita das companhias envolvidas na Lava Jato caiu 85% desde 2015 — ainda mais asfixiadas pelo corte de investimento público em obras — e dezenas de milhares de empregos foram perdidos.