A Secretária de Comunicação (Secom) da Presidência e o Itamaraty mentiram à Aliança Global de Vacinação (GAVI) quando, no dia 18 de setembro de 2020, pediu extensão do prazo para assinatura da adesão ao Consórcio Covax Facility porque estudava "criteriosamente" das cláusulas da iniciativa global para facilitar o acesso de países a vacinas contra Covid-19.
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Vídeos divulgados pela revista Crusoé nesta quarta-feira (28) revelam que na noite anterior do prazo final, o subchefe adjunto executivo de Assuntos Jurídicos da Presidência afirmou que não havia despacho algum para tratar do tema no dia 18, pois Jair Bolsonaro estaria muito ocupado recebendo homenagens de ruralistas em Sinop, no Mato Grosso.
Enquanto Bolsonaro viajava para o evento com os ruralistas, a Secom divulgou nota dizendo que o Itamaraty havia pedido a extensão do prazo.
"Tal medida se faz necessária para obter mais informações sobre as condições para a aprovação regulatória, instrumento jurídico aplicável, vacinas em desenvolvimento, suas características de armazenamento e transporte logístico", afirmou a nota da Secom à época.
No vídeo divulgado pela Crusoé, Moura participa de reunião com outros assessores e diz: "Eu perguntei ao Pedro [Marques, então chefe de gabinete de Bolsonaro] se tinha algum despacho marcado para tratar do tema e não está previsto”.
Corda no pescoço
A Aliança Gavi, no entanto, não aceitou a extensão do prazo e os técnicos do governo tiveram que deixar o documento pronto para assinatura de Bolsonaro com a "corda no pescoço", segundo Talita Saito, subchefe adjunta de Política Econômica da Casa Civil.
Na intensa agenda com ruralistas na data limite para assinatura do acordo sobre vacinas, Bolsonaro promoveu aglomerações em Sinop e também em Sorriso, onde participou do lançamento simbólico do plantio de soja.