A cloroquina e a azitromicina, protagonistas do “kit Covid”, que até hoje é propagado pelos bolsonaristas como uma opção de tratamento precoce para o coronavírus, tiveram aumento exponencial nas vendas no primeiro ano da pandemia. Os 2 medicamentos não têm eficácia comprovada contra a Covid-19, segundo especialistas, mas agradam o entusiasta da cloroquina, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que teve papel fundamental na divulgação dos remédios.
A cloroquina passou de 1.553.878 embalagens vendidas em 2019, para 2.296.693 em 2020, aumento consolidado de 47%.
A azitromicina registrou aumento de 28.153.437 em 2019 para 57.861.866 em 2020. Um aumento consolidado de 105%.
A cloroquina registra alta nas vendas desde 2015, com aumento acumulado nas vendas de 130,7%, mas foi bastante impulsionada pelos bolsonaristas durante a pandemia, período em que a maior parte da alta nas vendas foi registrado.
Os dados são da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As vendas registradas pela Anvisa não levam em consideração o volume de comprimidos produzidos pelo Exército Brasileiro que, por meio do Ministério da Defesa, investiu 1 milhão de reais na produção especialmente de cloroquina.
Cloroquina e o “kit covid” são investigados pela CPI da Pandemia
A frequente recomendação do “kit covid” pelo governo é alvo de investigação da CPI da Covid-19.
O Ministério da Saúde cogitou, inclusive, distribuir um “kit covid” gratuitamente para a população por meio do programa Farmácia Popular, em uma ação do ex-ministro Eduardo Pazuello para agradar o presidente.
Além disso, os parlamentares também buscam descobrir se o Ministério da Saúde indicou a administração das drogas durante a crise em Manaus no começo deste ano.
Bolsonaro volta a defender a cloroquina
O presidente Jair Bolsonaro não se cansa de defender o uso da cloroquina contra o coronavírus e voltou a comentar sobre o assunto nesta semana:
“Eu tomei a cloroquina, mais de 200 pessoas tomaram, aqui na Presidência, e ninguém foi a óbito”, afirmou Bolsonaro.
É importante lembrar que esses remédios não têm eficácia comprovada pelos especialistas contra o coronavírus e que a venda está condicionada à apresentação de receita médica simples em 2 vias.
A microbiologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Natalia Pasternak, que prestou depoimento à CPI da Covid-19, atesta a posição da comunidade científica contra a cloroquina como parte de um tratamento precoce:
“Não funciona em células do trato respiratório, não funciona em camundongos, não funciona em macacos e também já sabemos que não funciona em humanos”, disse, afirmando que foram esgotadas as opções de testes para o medicamento. “A gente só não testou em emas porque elas fugiram”, provocou Pasternak em menção a um episódio em que o presidente Jair Bolsonaro foi fotografado correndo atrás do animal com uma caixa do medicamento.