Cerca de 24 horas depois de assinar uma nota com ameaças golpistas junto aos comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, mandou um duro recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reforçando a conspiração de Jair Bolsonaro (sem partido) de que não haverá eleições em 2022 caso o Congresso não aprove o voto impresso.
Segundo reportagem de Andreza Matais e Vera Rosa, na edição desta quinta-feira (22) do jornal O Estado de S.Paulo, por meio de um interlocutor, Braga Netto "pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável".
A ameaça foi repetida por Bolsonaro no mesmo dia 8 de julho em conversa com apoiadores: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse o presidente, sinalizando o conluio em torno do discurso no Planalto.
De acordo com a reportagem, após receber o "recado", Lira pediu uma audiência com Bolsonaro, que repetiu o chavão que joga "dentro das 4 linhas da Constituição".
O presidente da Câmara então teria relatado o fato a um grupo seleto, dizendo-se preocupado pois a situação é "gravíssima", ainda mais diante da possibilidade da rejeição do projeto sobre o voto impresso, que tramita em uma comissão especial na Câmara.
Na conversa com Bolsonaro, Lira teria repetido que está com o presidente até o fim, mesmo que o grupo seja derrotado nas eleições de 2022, mas que não admitiria golpe.
Ainda segundo as jornalistas, o tema é do conhecimento de juristas e de um grupo de políticos em Brasília.
Um ministro do STF teria dito ao jornal, em condição de anonimato, que a ameaça de Braga Netto repete a estratégia do general Eduardo Villas-Bôas em 2018, quando a corte julgou o pedido de Habeas Corpus que poderia libertar o ex-presidente Lula, à época preso pela Lava Jato na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Com o recado e a nota com as Forças Armadas, Braga Netto estaria tentando intimidar o Congresso Nacional diante dos avanços das investigações sobre militares pela CPI do Genocídio, no Senado.