Em reportagem analítica divulgada em seu site oficial nesta quinta-feira (15), a organização Médico Sem Fronteiras, que está presente em mais de 70 países e recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1999, afirma que o Brasil vive uma "catástrofe humanitária" devido às falhas na resposta à Covid-19 e que o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) é responsável por alimentar o "ciclo de doença e morte" no país que, segundo a organização, possui um sistema de saúde "conceituado e prestigiado".
"A falta de vontade política de reagir de maneira adequada à emergência sanitária está causando a morte de milhares de brasileiros. Médicos Sem Fronteiras (MSF) faz um apelo urgente às autoridades brasileiras para que reconheçam a gravidade da crise e coloquem em marcha uma resposta centralizada e coordenada para impedir que continuem ocorrendo mortes que podem ser evitadas", diz o texto, citando dados estarrecedores da Covid-19 no Brasil.
Segundo o médico Christos Christou, presidente internacional de MSF, "medidas de saúde pública se transformaram em tema de disputa política no Brasil".
“O governo federal praticamente se recusou a adotar diretrizes de saúde pública de alcance amplo e com base em evidências científicas, deixando às dedicadas equipes médicas a tarefa de cuidar dos mais doentes em unidades de terapia intensiva, tendo que improvisar soluções na falta de disponibilidade de leitos”, afirma Christou. “Isto colocou o Brasil em um estado de luto permanente e o sistema de saúde do país à beira do colapso”.
Segundo a diretora-geral da entidade, Meinei Nicolai, a "resposta à COVID-19 no Brasil tem de começar na comunidade, não na UTI”, com o adoção do uso de máscaras, distanciamento social, medidas de higiene e restrições a atividades não essenciais, mas Bolsonaro, por meio de apoiadores, alimenta o ciclo de "doença e morte" com grande volume de "desinformação.
"Alimentando o ciclo de doença e morte no Brasil está o grande volume de desinformação que circula pelas comunidades do país. Uso de máscaras, distanciamento físico e restrição de movimentos e de atividades não essenciais são rejeitados e politizados. Além disso, medicamentos como a hidroxicloroquina (usada geralmente contra malária) e ivermectina (um vermífugo) são apregoados por políticos como panaceia e receitados por alguns médicos tanto como profilaxia quanto como tratamento para a COVID-19", diz o texto.
"A recusa em colocar em prática medidas de saúde pública baseadas em evidências científicas resultou na morte prematura de muitas pessoas. A resposta à pandemia precisa urgentemente de um recomeço, baseado em conhecimentos científicos e bem coordenado, para evitar mais mortes desnecessárias e a destruição de um sistema de saúde conceituado e prestigiado", finaliza Christou.
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