Apostando todas as fichas na tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, o ministro da Economia, Paulo Guedes, negou os dados divulgados nesta quinta-feira (3) pelo IBGE que mostram que o Brasil vive uma recessão técnica após recuo do PIB por dois trimestres seguidos e desdenhou da crise que tem levado milhares de brasileiros de volta ao mapa da fome.
“O crescimento está contratado. A conversa de que o Brasil não vai crescer é uma conversa de maluco”, afirmou em palestra Airport National Meeting, encontro de empresários do setor de aeroportos, que têm grande interesse nas concessões feitas pelo ministro.
“O PIB caiu 0,1% e a Bolsa cresceu 3%. Se alguém estivesse levando a sério que o PIB vai cair, a Bolsa não estava subindo”, justificou, minimizando os dados do IBGE.
Em outra palestra, no 11º Seminário de Administração Pública e Economia do Instituto de Direito Público (IDP), ele criticou o "pessimismo" e diz que, por isso, não lê mais jornais.
"Não tenho lido muito para não desanimar porque nos jornais há dois Brasis, um dos críticos e outro dos que veem as coisas de forma mais construtiva".
Queda "localizada", justifica o ministro
Após divulgação nesta quinta-feira (2) de que o Produto Interno Bruto (PIB) teve diminuição de 0,1% no terceiro trimestre, Guedes afirmou ao blog da Ana Flor, no G1, que a queda foi “localizada”. Segundo ele, o grande culpado é o impacto da crise hídrica na agricultura e na indústria.
“A agricultura caiu 8%, mas setor de serviços, por exemplo, se recuperou. Foi uma queda localizada”, disse o ministro. “Falar em crescimento é falar em investimento”, continuou, ressaltando que a taxa de investimento na economia está em quase 20%, “ponto mais alto desde o 3º trimestre de 2014”.
“Recuperação em V” da economia
Com a segunda queda trimestral no PIB – no segundo trimestre também houve recuo de 0,1% -, o Brasil entra em recessão técnica, enquanto a maioria dos países do mundo retomam o crescimento após a atenuação da pandemia do coronavírus.
A recessão técnica é quando um país acumula queda no PIB por dois trimestres seguidos. No primeiro trimestre de 2021, houve um crescimento de 1,2%, o que fez Guedes anunciar a “retomada em V” da economia.
Mesmo com os números do segundo trimestre mostrando o contrário, o ministro da Economia insistiu na tese.
“Diziam que eu estava em universo paralelo quando eu dizia que Brasil ia voltar em V. (…) A economia voltou em V, estamos crescendo novamente. Hoje saiu um dado [PIB], é praticamente de lado. Como foi -0,05%, arredondou para -0,1%. Se fosse -0,04% era zero”, disse em setembro, após divulgação dos dados.
Ministério da Economia culpa “fatores climáticos adversos”
Tentando tirar sua parcela de responsabilidade pela crise, o Ministério da Economia publicou nota defendendo que “fatores climáticos adversos” pesaram na queda do PIB.
“É fundamental distinguir o que é política econômica de fatores climáticos adversos e pontuais da natureza. A maior crise hídrica em 90 anos de história e a ocorrência de severas geadas tiveram impacto tanto em setores intensivos em energia como em setores que dependem do clima, como agricultura”, diz.
“A queda de 8% da agropecuária na margem produziu impacto de -0,5 p.p. do PIB no 3T21 contra o trimestre imediatamente anterior. Se fosse zerada a variação da agropecuária na margem, o PIB cresceria na ordem de 0,3% a 0,4% no 3T21 em relação a 2T21”, afirma no comunicado.