Pouco mais de uma semana após Jair Bolsonaro (PSL) voltar de uma viagem ao Oriente Médio, a Petrobras concluiu nesta terça-feira (30) a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde, na Bahia, para o fundo árabe Mubadala Capital.
A operação foi fechada com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1 bilhões) para a Petrobras, muito abaixo de estudo de valuation do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que mostra que o valor de mercado da RLAM estaria entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões.
Antes de iniciar as negociações para a venda, o governo encomendou uma estimativa do valor ao BTG Pactual, banco que foi fundado por Paulo Guedes, que estipulou em uma venda 35% (R$ 5 bilhões) abaixo do mercado, o que daria à refinaria um valor de cerca de R$ 13,9 bilhões. No entanto, a Petrobras jogou o preço para baixo na negociação com os árabes.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) entrou com ações na Justiça para barrar a venda, denunciando o preço irrisório, além da criação de um monopólio regional para distribuição de combustíveis na Bahia.
O contrato ainda prevê um ajuste final do preço de aquisição, que se espera seja apurado nos próximos meses. A refinaria é a primeira dentre as oito que estão sendo vendidas pela Petrobras a ter o processo concluído.
A Acelen, empresa criada pelo Mubadala Capital para a operação, assumirá nesta quarta-feira a gestão da RLAM, que passa a se chamar Refinaria de Mataripe.
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Em busca de petrodólares
No dia 8 de novembro, antes de embarcar para Dubai, nos Emirados Árabes, Bolsonaro culpou a companhia estatal pelo alto valor dos combustíveis e disse que, para ele, o ideal seria “ficar livre” da Petrobras.
“Para mim, o ideal é você ficar livre da Petrobras. Logicamente, privar para muitas empresas. Não pode tirar de uma monopólio estatal e colocar em um monopólio privado, tem que fatiar isso daí”, afirmou.
Principal responsável pela política de paridade internacional, que elevou o preço dos combustíveis ao maior patamar da história, e pregando aos quatro cantos a privatização da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a uma plateia de "investidores" na capital dos Emirados Árabes que estava em busca dos “petrodólares”.
“Aqui estão os petrodólares. Nós fizemos um grande movimento no final da década de 80, depois do choque do petróleo, para pegar essa reciclagem de recursos. Só que, naquela época, foi com endividamento. Nós fizemos uma expansão da infraestrutura com base em dívida. Agora nós vamos fazer com participação nos programas de investimento nossos, nas nossas parcerias de investimentos“, disse Guedes, sinalizando que vai incluir os árabes no esquema de venda fatiada do setor petrolífero estatal brasileiro.
Cesar Fonseca, do site Pátria Latina, levantou a hipótese da viagem ao Oriente Médio estar relacionada à venda fatiada da Petrobras.
Segundo Fonseca, o objetivo de Bolsonaro seria negociar a venda da Petrobras junto ao mesmo fundo árabe Mubadala, que comprou a Rlam. Ao entregar mais fatias da petroleira aos árabes, Bolsonaro colocaria como condição que os preços dos combustíveis fossem reduzidos para o consumidor e, assim, ele se livraria de um “problema” e impulsionaria seus planos de reeleição.
À Fórum, Tadeu Porto, que é diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), afirmou que a possibilidade aventada na análise de Fonseca é real.
“O Guedes está com um discurso de renovar os petrodólares e já tem um tempo que Bolsonaro fala em privatizar a Petrobras. E me parece que se confirma cada vez mais que é uma agenda do governo. A Mubadala já comprou a Rlam, está em processo de tomada, e pode ser que os árabes se interessem, de fato, em se expandir geopoliticamente pegando mais ativos do Brasil”, avalia o dirigente petroleiro.