Enxotado da horda bolsonarista após entrar em rota de colisão com o clã Bolsonaro e ameaçar implodir o presidente em outubro de 2019, o deputado Delegado Waldir (PSL-GO) entregou em detalhes como funciono o Bolsolão, esquema de compra de votos no Congresso Nacional por meio de emendas do chamado "orçamento secreto".
Waldir, que foi fiel escudeiro de Jair Bolsonaro (Sem partido), listou cifras e disse em entrevista a Guilherme Mazieiro, divulgada neste sábado (20) pelo site The Intercept Brasil, que o governo pagou R$ 10 milhões em emendas por deputado para a eleição do presidente da Câmara, Arthura Lira (PP-AL), e R$ 20 milhões por voto para aprovar a Reforma da Previdência.
"Não é algo que acontece todo dia. Aconteceu na reforma da Previdência, na eleição do Lira [para a presidência da Câmara] e em mais uma que não me lembro", disse ele, ressaltando que foram "R$ 10 milhões [em emendas do orçamento secreto por deputado]. E na [reforma da] Previdência, R$ 20 milhões por parlamentar".
Em ambos os casos, Waldir ainda estava na base do governo na Câmara quando iniciaram as negociatas para compra de apoio dos parlamentares.
O deputado, no entanto, garante que não chegou a usufruir do dinheiro porque foi excluído das negociações após o áudio vazado de uma reunião do PSL em que ele prometeu "implodir o presidente".
Ouça o momento em que Delegado Waldir xinga Bolsonaro e diz que vai implodir governo
"Desde que vazou aquele áudio [em uma reunião da bancada do PSL, em outubro de 2019, Waldir disse iria implodir o presidente e o chamou de vagabundo] pelo Daniel Silveira [deputado federal do PSL, preso no inquérito dos atos antidemocráticos], eu fui excluído", afirmou.
No entanto, o ex-bolsonarista ainda cobra a promessa após votar a favor da reforma de Paulo Guedes, que implodiu parte do sistema previdenciário brasileiro.
"Eu não recebi, eu e um grupo de deputados que foram dissidentes e permaneceram com o presidente Luciano Bivar. Alguns receberam, não foram todos. O governo me deve, porque fez um compromisso. E eu quero [receber], porque é dinheiro para meu estado", disse, ressaltando que "são R$ 26 milhões para educação, nós temos 1.755 escolas municipais em Goiás, eu estava dando R$ 12 mil por escola. Foram pagos uns R$ 800 mil dos R$ 25 milhões. Os outros R$ 20 milhões são destinados a maquinário agrícola".
Waldir ainda detalhou como funciona o esquema de corrupção montado por Jair Bolsonaro e garante que hoje Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) são quem comandam a verba da União. "Ele [o presidente da Câmara, Arthur Lira] tem uma verba nas votações. Hoje, os ministérios não têm mais recursos, quem tem são o Lira e o presidente do Senado [Rodrigo Pacheco, do PSD de Minas Gerais]. Eles são os concentradores da distribuição de emendas extraordinárias [do orçamento secreto], o que os torna superpoderosos", disse.
"Normalmente, o líder recebe duas vezes o que um parlamentar recebe", emendou.
Leia a reportagem na íntegra no The Intercept Brasil