Em evento do banco Bradesco, onde palestrou em inglês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que a manobra do governo com a PEC dos Precatórios para estouro o teto dos gastos é "oportunismo político" e justificou a medida por ver pessoas "comendo ossos, com fome".
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"[Alterar a regra do teto] foi certamente oportunista, de um ponto de vista político, mas é razoável", disse o ministro no evento ocorrido nesta quarta-feira (17).
Ao defender os R$ 400 para o Auxílio Brasil, que só será possível diante da aprovação da PEC dos Precatórios, Guedes disse que o governo tem ouvido relatos de famílias em situação vulnerável e comendo ossos.
"Nos últimos seis meses, tudo que ouvimos é que as pessoas estão comendo ossos, estão com fome. Então, se elas precisam de comida, [vamos dar] R$ 400 de renda básica e fazer uma revisão do teto", afirmou.
Guedes ainda fez chantagem, dizendo que está "muito preocupado com o crescimento" em 2022, caso a PEC não seja aprovada.
“Talvez seja essa a assimetria [entre as estimativas do mercado e do governo para o PIB], porque eu ainda estou esperançoso que nós vamos aprovar as propostas originais. Mas se não aprovarem, então estarei muito preocupado com o crescimento”, disse, ignorando dados do próprio Ministério da Economia, que revisaram para baixo o crescimento do PIB tanto em 2021, quanto em 2022.
Guedes usa fome e miséria como desculpa para privatizar Petrobras
Guedes ainda revelou ao sistema financeiro que a fome e a miséria fazem parte da estratégia do governo para privatizar empresas como Petrobras, Eletrobras e Correios.
Na palestra, o ministro defendeu a venda das estatais para formação de um fundo de combate à pobreza.
“Se o petróleo está subindo ou a taxa de juros está subindo e aí alimentos estão subindo, a primeira melhor opção, é claro, são políticas sustentáveis para a erradicação da pobreza”, afirmou.
Volta da inflação, o maior problema de 2022
Guedes ainda afirmou que o maior problema para 2022 será a "inflação resiliente", distúrbio econômico que ganhou projeção durante a Ditadura Militar e só foi superado em 1994, durante o governo Itamar Franco com a implantação do Plano Real.
"O problema não será crescimento baixo, o problema será inflação resiliente. A inflação provavelmente será um pouco acima do que vocês estão prevendo, mas o crescimento também será maior do que vocês estão prevendo, então vamos ver. Eu não faço previsões, eu faço piada de previsões, de previsões erradas”, declarou o ministro.
Na última edição do boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo Banco Central (BC), os analistas de mercado projetam crescimento de 0,9% para o PIB em 2022 e inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,8% no próximo ano.
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