Ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social no primeiro mandato do ex-presidente Lula e funcionário concursado do Banco do Brasil, Ricardo Berzoini vê o plano de "reestruturação" lançado pela instituição nesta segunda-feira (11) como dividendos pagos pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, das promessas que fez ao sistema financeiro ao embarcar na candidatura de Jair Bolsonaro em 2018.
"Guedes entrega aquilo que prometeu ao mercado. Destruir o setor público no sistema financeiro", disse em entrevista à Fórum o ex-ministro, que também comandou três pastas (Relações Institucionais, Comunicações e Secretaria de Governo) na gestão Dilma Rousseff e iniciou na política no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, do qual foi presidente.
Segundo Berzoini, Bolsonaro repete o que já foi feito no governo Fernando Collor - quando foi lançado o primeiro "Plano de Demissão Voluntária" da instituição, de forma ainda mais grave, colocando milhares de funcionários na rua em plena pandemia do coronavírus, que levou a um quadro recorde de 14 milhões de desempregados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de dezembro.
"Vão colocar milhares de funcionários para, de maneira angustiante, tomar decisão de sair ou não do banco precocemente, fechar agências - e portanto reduzir o atendimento - e criar uma situação de tensão interna, que é ruim em qualquer instituição financeira. Nós já vivemos isso no governo Collor, parecido não tão grave, mas parecido com isso. E depois vimos durante o governo Lula e Dilma o banco sendo usado para expandir o crédito agrícola, da micro e pequena empresas, de ampliar a relação com as empresas para financiar o desenvolvimento. E para isso, precisa de funcionário. Não adiante só smartphone para fazer política de expansão do crédito e fomento à economia", afirma.
Para Berzoini, o governo Bolsonaro se aproveita da digitalização, que foi forçada durante a pandemia, para justificar o desmonte dos bancos estatais.
"O fato é que agora estão aproveitando essa onda de digitalização, que parece justificar para quem não conhece bem o banco essa redução de estrutura, desperdiçando a oportunidade de ganhar mais mercado com um atendimento qualificado de seus clientes. O fato de você ter meios de atendimento digital, que cresceu muito especialmente por causa da pandemia, não exclui a necessidade de manter um relacionamento pessoal com os clientes e principalmente, para poder implementar programas de políticas públicas, que nesse governo não existe, e que foi o forte do BB, da Caixa, do Banco do Nordeste, do Banco da Amazônia e do BNDES durante os governos Lula e Dilma", afirma.
Berzoini ressalta que a atual linha administrativa da gestão do banco abandona qualquer perspectiva de papel social e trabalha meramente como um banco que tem que dar lucro a seus acionistas. "Claro, o BB quase sempre deu lucro - e muitas vezes um lucro robusto -, mas combinando o papel de fomentar da economia, com uma visão de estado, com o papel de disputar o mercado. Isso não é incompatível".
Segundo ele, o desmonte é um reflexo da dificuldade que o governo encontra para a venda dos bancos e empresas públicas. E que, por fim, acaba sendo uma nova forma de privatizar a estrutura estatal, que foi responsável, em grande parte, por minimizar os efeitos da crise econômica de 2008 durante o governo Lula, com a implementação de políticas sociais e de fomento aos setores público e privado.
"Na Caixa isso [o uso para fomentar as políticas do governo] foi muito claro e no Banco do Brasil também. E nos dois bancos estamos vendo um processo de desmonte. Se não servir à privatização, serve ao esvaziamento, que é uma forma diferente de privatizar. Como estão fazendo com a Petrobras, vendendo refinarias e subsidiárias para reduzir o papel da empresa."