"Sou um animal da iniciativa privada", diz Salim Mattar ao justificar saída do governo Bolsonaro

Bilionário, Salim Mattar usou o nome de Leonel Brizola para explicar a mudança de posição de Bolsonaro em relação às privatizações e traçou comparativo irreal ao dizer que venda de todas as estatais, que segundo ele valem R$ 1 trilhão, pagaria dívidas públicas, que atingiram R$ 4,2 tri em 2019

Salim Mattar e Jair Bolsonaro (Fotos: Marcos Corrêa/PR)
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Em extensa entrevista dividida em três blocos na GloboNews na manhã desta quarta-feira (12), o demissionário secretário de privatização, Salim Mattar, confirmou que está deixando o governo Jair Bolsonaro por causa da lentidão no processo de venda das empresas estatais.

"Eu sou um animal da iniciativa privada. Não me adaptarei à lentidão, à burocracia. Eu prefiro sair do governo do que me adaptar à essa lentidão do Estado", disse o bilionário, que elencou ainda como motivo um projeto de "alavancar" institutos que propaguem ideias liberais no Brasil.

Mattar diz ainda que não pretende voltar a gerenciar suas empresas - que tem como carro chefe a rede de locadoras de carros Localiza - devido a boa sucessão ocorrida e afirmou que Bolsonaro teve um gesto de grandeza ao aderir ao movimento privatista, citando como exemplo contrário a persistência do ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, de manter as ideias nacionalistas de manutenção das estatais.

"Foi um gesto de grandeza de Bolsonaro ter mudado de ideia. Lembro do Roberto Campos [ministro do Planejamento da ditadura Militar] falando do Leonel Brizola, que até hoje, nos anos 70, continuava acreditando nas ideias dos anos 50. O presidente deseja, sim, privatizar", afirmou.

Mattar ainda traçou um comparativo totalmente irreal ao dizer que o Brasil poderia sanar as "finanças públicas" com a venda de todas as estatais, que segundo ele valeriam R$ 1 trilhão.

"Se alguém quisesse vencer o problema das finanças públicas, bastava vender todas as estatais e nós teríamos um país surfando a partir do próximo ano", disse o bilionário, ignorando que só a dívida pública federal – que inclui o endividamento interno e externo do Brasil – fechou 2019 em R$ 4,249 trilhões, segundo dados do próprio governo.