Sob o comando do general Eduardo Pazuello e aparelhado por militares nomeados a mando de Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde pressiona inclusive a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que produz relatórios internos para informar o presidente, para maquiar dados e esconder o número real de mortos pelo coronavírus.
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Segundo reportagem de Fabio Marakawa, na edição desta segunda-feira (8) do Valor Econômico, a "maquiagem" deve sofrer novos retoques, sugeridos por auxiliares diretos de Pazuello, para baixar ainda mais os números relativos à doença no Brasil, incluindo os mortos por coronavírus.
Segundo o Valor, o novo método é baseado em sugestões dadas por Luciano Hang, o véio da Havan, que enviou aos militares da cúpula da Saúde um vídeo por Whatsapp.
No vídeo, Hang promete fazer uma live com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) para “mostrar o que está por trás dos números” recorde de mortes pela covid-19. Hang exibe, então, uma gráfico com dados de cartórios mostrando uma curva de óbito sem trajetória descendente. Assim, defende que o governo passe a publicar apenas as mortes confirmadas no mesmo dia. Segundo funcionários da Saúde, no entanto, a curva mostrada por Hang é descendente “porque os dados de mortes recentes são muito preliminares”.
Hoje, os números exibidos contêm as mortes registradas no mesmo dia e os óbitos confirmados naquela data, mas que ocorreram anteriormente e estavam sob investigação. Funcionários relatam que o coronel Elcio Franco Filho, secretário-executivo da pasta, tem insistido para que passem a ser divulgadas apenas as mortes ocorridas e confirmadas no mesmo dia.
Divergências
A nova "metodologia" já pode ter sido colocada em prática neste domingo (7), quando houve divergência nos dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Por volta de 20h30, o Ministério da Saúde divulgou o primeiro balanço, no qual informava que 1.382 mortes haviam sido registradas nas últimas 24 horas. Uma hora e meia depois, o portal do Ministério com informações referentes ao Covid informou que o número de óbitos confirmados era de 525. Ou seja, havia uma diferença de 857 vítimas.
Também houve divergências em relação ao número de casos confirmados nas últimas 24 horas. O primeiro número divulgado apontava 12.581 casos. O segundo balanço, por sua vez, indicava 18.912 casos do novo coronavírus.
Os dados do primeiro boletim do ministério eram pouco maiores do que os divulgados pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), que decidiu lançar um painel com números de contaminados e óbitos paralelo ao do governo, logo após a ameaça de sonegação de dados. O órgão mostrava, até as 18h, 1.113 mortos.
Nas redes nesta madrugada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o governo Jair Bolsonaro "brinca com a morte" ao "torturar" números do coronavírus.
"Brincar com a morte é perverso. Ao alterar os números, o Ministério da Saúde tapa o sol com a peneira. É urgente resgatar a credibilidade das estatísticas. Um ministério que tortura números cria um mundo paralelo para não enfrentar a realidade dos fatos", disse Maia, compartilhando notícia do portal G1 sobre a divergência nos dados.