O discurso do ministro Paulo Guedes de que a economia brasileira estava decolando antes da chegada da pandemia do coronavírus é mais uma bravata do governo Jair Bolsonaro. Dados divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas (FGV), confirmam que o país entrou em recessão econômica no primeiro trimestre de 2020, com um pico no ciclo de negócios brasileiro no quarto trimestre de 2019.
Leia também: FMI pede a Paulo Guedes 4 milhões de dólares para fundo da Covid-19 para o setor financeiro
"O pico representa o fim de uma expansão econômica que durou 12 trimestres — entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto de 2019 — e sinaliza a entrada do país em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020", informou, em comunicado, o grupo, ligado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
Embora alguns economistas utilizem a métrica de que recessão é o período marcado por dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.
São analisados indicadores como consumo, investimento, nível de emprego, desempenho da construção civil, importações e exportações, por exemplo.
Golpe e recessão
Um outro dado revelado pelo instituto mostra que o golpe iniciado em 2014 e que resultou na queda de Dilma Rousseff (PT) da Presidência em 2016 levou o Brasil ao maior período recessivo da história.
Entre 2014 e 1019, a economia brasilleira retraiu por 33 meses seguidos, tempo superior aos 30 meses de recessão entre 1989 e 1991, quando o Plano Collor determinou o confisco.
O comitê foi criado em 2004 pela Fundação Getulio Vargas com a finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros, estabelecida pela alternância entre datas de picos e vales no nível da atividade econômica.
Embora tenha sido criado e receba apoio operacional da FGV, por meio do Ibre, as decisões do comitê são independentes.
Em sua reunião da última sexta-feira (26), o Codace era formado por Affonso Celso Pastore (coordenador, diretor da AC Pastore & Associados), Edmar Bacha (diretor do Iepe-Casa das Garças), João Victor Issler (professor da FGV/EPGE), Marcelle Chauvet (professora da Universidade da Califórnia), Marco Bonomo (professor do Insper), Paulo Picchetti (professor da FGV/EESP e pesquisador do FGV/Ibre), Fernando Veloso (professor da FGV/EPGE e pesquisador do FGV/Ibre) e Vagner Ardeo (vice diretor do FGV/Ibre).