Antecessor de Nelson Teich no cargo, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta classificou a saída do seu sucessor nesta sexta-feira (15) e o tempo de permanência dele no cargo como "um mês perdido no meio" na pandemia de coronavírus.
"Foi um mês perdido, que jogaram fora no meio da epidemia. Eu pedi para a equipe permanecer para ajudar, e em um mês exoneraram praticamente todo mundo, e não nomearam os novos. E agora ele sai?", disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
"Talvez ele [Bolsonaro] deva colocar lá uma pessoa que não seja médica, que não tenha muito compromisso e possa acelerar o que ele quer, porque fica difícil para um médico passar por cima de princípios básicos da ciência."
Mandetta voltou a criticar a postura de Bolsonaro, que, segundo ele, impede a implementação de ações no cargo.
"Não posso dizer que a saída era esperada, mas era muito difícil que funcionasse. Ninguém consegue planejar nada com essa instabilidade", disse o ex-ministro.
"O tempo de permanência dele ali dentro foi um tempo perdido, para o enfrentamento da epidemia, para o Ministério da Saúde e para os estados. Não sei para ele. Em um mês ali dentro você não conhece 1% de tudo, ainda mais se nunca trabalhou no SUS [Sistema Único de Saúde], e ele não conhecia o SUS", afirmou Mandetta.
"É muito difícil acertar em um ministério complexo como aquele mesmo em situações normais. Com esse perfil, ainda mais uma situação dessa gravidade, teria sido uma surpresa se ele tivesse conseguido transitar em uma política tão complexa."
Mandetta também comentou sobre a pressão de Bsolnaro para a liberação do uso da cloroquina, motivo de atrito com ele e com Teich.
"É um dilema. Para nós da saúde, é impossível chegar e dizer 'relativiza', ou perguntar 'quantas mortes você acha aceitável?' Não dá. Não tem comprovação. Se é prejudicial ou não, ainda vamos saber. A ciência é implacável, ela tem o tempo dela, mas se manifesta", disse. ?