Professor de história dá aula do que foram as capitanias hereditárias para General Mourão

Thiago Krause rebateu afirmação do vice-presidente de que as capitanias hereditárias representavam a “melhor das nossas origens”: “A conquista foi violenta, escravocrata e etnocida”, diz o professor

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Escrito en POLÍTICA el
O professor de História do Brasil Colonial da Unirio, Thiago Krause, não se conformou com a afirmações do vice-presidente da República, General Hamilton Mourão. O militar fez um post neste sábado (28) para comemorar o aniversário da criação das capitanias hereditárias no Brasil. Krause foi ao Twitter e deu uma verdadeira aula de história para o general. Veja abaixo os posts do professor: “Estou acostumado a ler ‘bad takes’ históricos por parte do bolsonarismo, mas esse é um dos mais inovadores que eu já vi! Depois do choque inicial, vamos transformar essa imbecilidade em ‘teachable moment’”. “’Mais avançada tecnologia da época’ - no século XIX, a historiografia nacionalista liberal portuguesa inventou a Escola de Sagres, uma academia científica que teria produzido as inovações que explicariam o pioneirismo português na expansão. O problema é que ela nunca existiu!”. “Os historiadores oitocentistas só queriam inserir Portugal no rol das nações modernas, enfatizando o único argumento que os lusos tinham pra reivindicarem um lugar de destaque na história mundial: a expansão. Isso foi elevado ao paroxismo pelo salazarismo e copiado aqui”. “Há alguma discussão recente sobre a ciência ibérica (ainda que mais hispânica) e debates sobre quão inovadores foram os navegadores portugueses, mas é certo que muito foi tomado dos árabes e grande parte do restante foi um conhecimento prático”. “Mas o esquisito mesmo é ‘o país nascia pelo empreendedorismo’ - WTF? As capitanias eram um expediente utilizado pela Coroa desde meados do século XIV nas ilhas atlânticas, em que eram concedidos direitos senhoriais em troca de investimento privado. Eram mais arcaicas que modernas”. “Em termos econômicos, foram um fracasso, menos por descaso dos donatários como geralmente se diz e mais por causa da resistência indígena às tentativas iniciais de escravização. O sucesso de SP e PE teve mais a ver, portanto, com o estabelecimento de alianças com etnias indígenas”. “Elas ajudaram a fortalecer a reivindicação portuguesa ao território, mas a conquista efetiva se consolidou com a ação assassina dos governadores-gerais nomeados pela Coroa a partir de 1549, fundamentais também para impulsionar a indústria açucareira”. “O pior, evidentemente, é falar no ‘melhor das nossas origens’ - a conquista foi violenta, escravocrata e etnocida. Não deixa de ser coerente, porém, que esse governo ache isso bom, né? Enfim, Mourão, vem fazer meu curso de História do Brasil I e para de tuitar besteira”.