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Por Brasil de Fato
Apesar de o número de produtores orgânicos ter triplicado em sete anos no Brasil, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou, nesta semana, que o clima quente do país não é favorável a esse tipo de produção mais saudável e sem agrotóxicos. Ex-presidente da bancada ruralista no Congresso e uma das principais defensoras do chamado “PL do Veneno”, a ministra fez essa e outras declarações controversas durante visita aos Emirados Árabes Unidos nesta semana, como parte de uma missão ao Oriente Médio.
Em entrevista à agência de notícias Emirates News Agency (WAM), a ministra afirmou que, por causa do clima “desfavorável”, os produtos orgânicos seriam “entre 15 e 20% mais caros” que produtos não orgânicos, sendo consumidos “apenas pelas classes mais altas”.
As afirmações contradizem informações do próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entre 2010 e 2018, o número de unidades de produção orgânica no país cresceu de 5.406 para 22.064, um aumento de mais de 300%. Além disso, 90 mil produtores se autodeclararam ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como orgânicos.
O déficit de registros, segundo a própria Coordenação de Produção Orgânica, setor do Mapa responsável pelo Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, seria um fator para a baixa oferta no mercado e, consequentemente, os preços mais elevados.
Amazônia
Na entrevista à WAM, Tereza Cristina minimizou também a gravidade das queimadas na Amazônia, alegando que a mídia “exagerou” a magnitude dos incêndios e que os focos estavam apenas “na fronteira da Amazônia, não na floresta úmida”.
O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) registrou 140.824 focos de incêndio em todo o país entre 1º de janeiro e 26 de setembro, um aumento de 54% em relação ao mesmo período do ano passado. Só no mês de agosto deste ano, período mais crítico da atual crise ambiental, houve um aumento de 288% no número de focos registrados em comparação com julho. Além da floresta amazônica, um dos biomas mais afetados é o Cerrado.
Golfo
Tereza Cristina afirmou o interesse de criar “uma cooperação ativa no setor agrícola com os Estados do Golfo”, entre outras coisas, para a pesquisa e desenvolvimento de novos alimentos geneticamente modificados. Durante a entrevista, a ministra do governo de Jair Bolsonaro também defendeu “com a convicção de sua experiência profissional” que os alimentos transgênicos são “seguros” e que “não há prova científica” dos riscos desse tipo de produto.
A afirmação da ministra, no entanto, vai na contramão de tendências internacionais, como no caso da Alemanha, que recentemente proibiu o uso do glifosato, com base em estudos que apontam que o agrotóxico está por trás da morte massiva de insetos polinizadores e o aumento de incidência de câncer em animais e, provavelmente, em seres humanos. Nos Estados Unidos, a relação entre glifosato e câncer também tem sido apontada em uma série de processos judiciais.
No Brasil, uma consulta pública realizada em abril pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou que mais da metade dos participantes defendem a proibição do glifosato no Brasil por causar danos à saúde das pessoas.
Antes de assumir a pasta da Agricultura no governo Bolsonaro, Tereza Cristina presidiu a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), conhecida como “bancada ruralista”, e foi uma das principais defensoras do PL 6299/2002, o chamado PL do Veneno, que propõe facilitar a autorização e comercialização de agrotóxicos no Brasil. Porém, o ritmo de liberação de agrotóxicos no atual governo está tão acelerado que os próprios ruralistas pararam de insistir na tramitação do projeto no Congresso. Em nove meses, já são 325 novos produtos liberados.
A viagem de Tereza Cristina aos Emirados Árabes Unidos fez parte de uma agenda no Oriente Médio para “abrir novos mercados para produtos agropecuários do Brasil”. A ministra se encontrou com investidores e representantes de governo para discutir “oportunidades de negócios” e passou também por Egito, Arábia Saudita e Kuwait.