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Um sentimento misto de medo, indignação e tristeza. É assim como José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça no governo FHC, avalia a presidência de Jair Bolsonaro. Em entrevista ao repórter Ricardo Kotscho, publicada na edição deste sábado (3) do jornal Folha de São Paulo, o jurista analisa o clima de intolerância que tomou conta do país. "Eu acho que a democracia corre risco de termos de novo a ditadura, agora pelo voto. Porque nós temos como presidente uma pessoa absolutamente desequilibrada. Tenho muito receio de um retrocesso nas conquistas democráticas que tivemos nos últimos 30 e tantos anos", comenta.
Ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz a Arquidiocese de São Paulo - um dos grandes polos de resistência democrática durante a ditadura militar - Dias é hoje um dos idealizadores da Comissão Arns, que leva o nome do ex-cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, uma referência em direitos humanos na história recente do país. "Nós nos unimos na luta contra a violência e o ódio", explica advogado que participa do movimento junto com personalidades como paulo Sérgio Pinheiro, Bresser Pereira,Margarida Genevois, Antonio Mariz de Oliveira, Paulo Vannuchi, André Singer e Belisário dos Santos Junior. 'Resolvemos criar uma comissão com o nome do nosso padroeiro dom Paulo Evaristo, porque ele foi a síntese de toda a oposição séria deste país desde a criação da Comissão de Justiça e Paz, em 1972", argumenta.
Criado em março, o movimento caminha ao lado de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI). "A sociedade civil hoje tem pulmões que a fazem respirar, e a Comissão Arns pretende ser um desses pulmões", antecipa, lamentando que o clima de retrocesso que se anuncia no governo de Jair Bolsonaro. "Nós temos o dever agora de debater o problema da violência no plano nacional, com os olhos voltados para as graves violações de direitos humanos em todos os campos —o meio ambiente, a liberdade de expressão, educação, saúde, enfim, é uma variedade de temas que temos de pautar", prossegue.