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Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem.” (Paulo Freire)
O destempero verbal de Bolsonaro nos últimos dias levará inevitavelmente à sua queda e a de toda sua família de delinquentes e assessores mais próximos. Como a História é um poço de sabedoria sobre o futuro, aposto que o fim da ditadura bolsonarista se dará não como a de Mussolini e sua amante, mas de forma muito idêntica à do ditador do Vietnã do Sul, Ngô Dinh Diem, morto pelo seu exército (assim como seu irmão) em 1963, dias antes do assassinato do presidente norte-americano John Kennedy. Em 1963, as tensões entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul estavam em ebulição extrema. Porém, mais perigoso que os vietcongs era a situação interna do Vietnã do Sul: repressão política, repressão a religiosos (especialmente aos budistas), carestia, submissão aos interesses norte-americanos, instabilidades de fronteiras e focos múltiplos de “desordem” no meio rural. Se analisarmos estes ingredientes, podemos encontrar quase o Brasil de hoje sob a égide do desgoverno Bolsonaro. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo. Com a relutância de Kennedy em iniciar campanha militar aberta contra o Vietnã do Norte, sem esbarrar na figura autoritária de Diem, a política norte-americana esperou pelos ingredientes naturais para a deposição, pelos sul-vietnamistas, do ditador. A tensão explodiu com as manifestações dos budistas e especialmente após uma série de suicídios por monges budistas, que ateavam fogo em si próprios. A crise aumentou, pois a toda poderosa cunhada de Diem, Madame Nhu, debochava abertamente dos suicídios afirmando que ela forneceria fósforos aos suicidas. Até a comunidade católica se indignou (Diem era católico!). Os dias que se seguiram foram tensos e Kennedy pediu que Diem respeitasse os budistas para não piorar a situação. Diem prometeu! Mas dois dias depois descumpriu a promessa e prendeu todos os monges budistas e seus seguidores, assim como fechou os templos. Isto foi o rastilho de pólvora a explodir a sociedade sul-vietnamita. No dia seguinte, milhares de estudantes universitários saíram às ruas para protestar. Foram duramente reprimidos, presos, vários mortos e as universidades fechadas. No dia seguinte foi a vez dos estudantes secundários, com tratamento igualmente feroz por parte de Diem. Com escolas e universidades fechadas, templos invadidos, parte das Forças Armadas começou a ver que não havia condições de permanência de Diem e alguns altos oficiais entraram em contato com a assessoria de Kennedy avisando-lhe da iminência de um golpe militar! Kennedy não se opôs e deu carta branca. Em 1º de novembro de 1963 parte do exército sul-vietnamita se rebelou e houve um combate feroz por longas 18 horas, incluindo dentro do Palácio presidencial. Diem e seu irmão conseguiram fugir por meio de um túnel secreto até um Igreja, mas foram descobertos. Foi-lhes oferecida a rendição, o que ocorreu no dia seguinte. Eles pediram um salvo-conduto até o aeroporto e foi-lhes oferecido um tanque para o transporte. Porém, raivosos com tanta ferocidade ditatorial, soldados abriram fogo contra os dois matando-os instantaneamente. Madame Nhu só não foi morta pois estava fora do Vietnã (para onde nunca mais retornou). Dias depois, Kennedy estaria morto, assassinado provavelmente pela gang da indústria armamentista que ansiava pela guerra total entre os dois Vietnãs. Daí em diante conhecemos a história: dez anos depois, 250 mil mortes de soldados sul-vietnamitas; um milhão e meio de mortos entre a população civil, um milhão de mortos norte-vietnamitas. Florestas e plantações de arroz destruídas numa devastação sem precedentes com agente laranja (deflorestante), napalm, fósforo etc. Sobre o Vietnã seriam lançadas mais bombas que aquelas jogadas em toda a Segunda Guerra Mundial. Em nosso caso, Bolsonaro desgoverna o Brasil, achando-se no direito, tal como Diem, de des-administrar o país com sua família e seus acólitos. Despreza a democracia; infla Conselhos que restaram com militares e promove o discurso da violência de toda ordem (feminicídio, homofobia, xenofobia, etnocídio, desmatamento, poluição etc.), além de privilegiar neopentecostais em detrimento do Laicismo. As Forças Armadas do Brasil, uma das mais entreguistas e lesa-Pátria do mundo, começam a se incomodar! Pode ser que não tardará para que elas apresentem a Bolsonaro as duas únicas possibilidades que lhe restam: o exílio ou a morte! Cuidado ao entrar no tanque, Bolsonaro! Diem e seu irmão sentiram o chumbo quente que sempre propugnaram contra os desvalidos de seu povo! *Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá, autor do livro “Memórias do Invisível” entre outras obras