Pela primeira vez desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a maioria dos católicos brasileiros expressa desaprovação ao governo federal. É o que mostra a mais recente rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (4). Segundo o levantamento, 53% dos católicos entrevistados desaprovam a gestão petista, enquanto 45% a aprovam. Apenas 2% disseram não saber ou preferiram não responder.
A virada no apoio católico representa um marco simbólico e preocupante para o governo, que tradicionalmente manteve boa relação com esse segmento da população. Em julho de 2024, por exemplo, o governo Lula era aprovado por 60% dos católicos, frente a uma desaprovação de 37%. Em menos de um ano, houve uma perda de 15 pontos percentuais na aprovação e um crescimento de 16 pontos na rejeição — sinalizando um desgaste significativo.
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Já entre os evangélicos, a rejeição segue em patamares elevados e estáveis. De acordo com a mesma pesquisa, 66% desaprovam o governo Lula, e apenas 30% o aprovam. Desde julho do ano passado, houve um salto de 14 pontos na reprovação e uma queda de 12 na aprovação entre os evangélicos, consolidando um cenário de franca oposição.
Mudança no humor católico
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A inflexão na opinião dos católicos foi captada também pelo instituto PoderData, em pesquisa divulgada na véspera (3). Nela, 48% dos católicos desaprovam a gestão petista, enquanto 45% demonstram apoio — uma diferença que configura empate técnico, considerando a margem de erro de 3,6 pontos percentuais para esse grupo.
Mas apesar do aparente equilíbrio estatístico, os números revelam uma inversão clara em relação ao início do mandato. Em janeiro de 2023, 62% dos católicos aprovavam o governo Lula, contra 31% que o desaprovavam. Ou seja, em menos de um ano e meio, a base de apoio católica ao petista foi praticamente reduzida à metade.
A queda da aprovação entre católicos é especialmente sensível para o governo, não apenas pelo simbolismo religioso, mas também por razões eleitorais e históricas. O catolicismo é a religião majoritária no Brasil, com cerca de 52% da população, segundo o Censo 2022. Trata-se, portanto, de um grupo demograficamente expressivo e politicamente relevante.
Historicamente, Lula sempre teve uma relação mais sólida com os católicos do que com os evangélicos. Durante a campanha de 2022, buscou ativamente apoio entre bispos, padres e movimentos sociais ligados à Igreja. O próprio presidente se define como cristão e frequentemente cita passagens bíblicas em discursos públicos.
A mudança de humor entre os católicos pode ter múltiplas explicações como a alta nos preços de alimentos, além do crescimento das alas mais fundamentalistas no catolicismo brasileiro.
O desafio evangélico
Se a perda do apoio católico preocupa, a relação com os evangélicos continua sendo um desafio ainda maior. O segmento, que representa aproximadamente 31% da população brasileira, mostra-se majoritariamente hostil ao governo Lula desde o início do mandato. A nova pesquisa da Genial/Quaest confirma a rejeição estável: 66% desaprovam a gestão, contra 30% que a aprovam.
Os dados revelam um crescimento na rejeição ao longo do tempo. Em julho de 2024, a desaprovação entre evangélicos era de 52%. Agora, supera dois terços dos entrevistados. A relação conflituosa entre o lulismo e o eleitorado evangélico remonta à eleição de 2022, quando o então presidente Jair Bolsonaro concentrou sua campanha nesse público e obteve apoio massivo de pastores, igrejas e lideranças do segmento.
Mesmo após a posse, Lula não conseguiu reverter essa resistência. Medidas ligadas à pauta de costumes, como a defesa dos direitos LGBTQIA+ e políticas de educação sexual, continuam sendo exploradas por setores conservadores como ameaças aos "valores cristãos", o que alimenta a retórica antipetista nas igrejas e redes sociais.
O peso político da religião
A influência da religião na política brasileira não é nova, mas se intensificou nos últimos anos, especialmente durante os mandatos de Jair Bolsonaro, que usou a pauta cristã como uma das principais bandeiras de governo. O avanço do conservadorismo religioso no Congresso e nas disputas estaduais reforçou essa tendência.
Para Lula, conquistar ao menos parte desse eleitorado será fundamental não apenas para manter a governabilidade, mas também para construir uma base eleitoral sólida para as eleições de 2026, seja para os planos de reeleição, seja para garantir apoio legislativo nos próximos anos.
A crescente articulação bolsonarista entre católicos e evangélicos — antes mais divididos — representa um novo risco. Caso a desaprovação se consolide entre ambos, o espaço político para o governo pode se estreitar ainda mais.
Alerta vermelho
A virada de opinião entre católicos e a rejeição persistente entre evangélicos acendem um alerta vermelho para o Palácio do Planalto. Mais do que um problema de imagem, os dados revelam uma erosão concreta da base de apoio popular em setores historicamente relevantes. Resta saber se o governo Lula conseguirá reverter essa tendência — e, mais importante, se será capaz de compreender as razões profundas desse afastamento religioso. A resposta a essa questão poderá definir o rumo da política brasileira nos próximos anos.