O jurista e youtuber José Fernandes Júnior esteve no Fórum Onze e Meia desta terça-feira (24) para comentar sobre os principais temas da política, como a corrida presidencial para o próximo ano, e fazer avaliações sobre o governo Lula.
Fernandes falou sobre a declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre seu filho e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), não concorrer ao Senado em 2026. Para o jurista, isso não necessariamente significa que Eduardo vai ser o candidato indicado pelo ex-presidente. Fernandes acredita que o candidato de Bolsonaro não será nem escolhido pelo ex-presidente.
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"O candidato do Bolsonaro não será o Bolsonaro que escolherá. O candidato do Bolsonaro vai ser imposto a ele. O Bolsonaro é o moribundo político", disse Fernandes. O nome escolhido para substituir o ex-presidente na eleição será decidido pelas forças que o sustentaram durante esses anos, de acordo com o jurista. Esse nome, para Fernandes, será o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já vem dando sinais de que deve ser o candidato da direita e da extrema direita.
Fernandes citou uma entrevista que realizou com Julian Lemos, ex-deputado e ex-coordenador de campanha de Bolsonaro entre 2015 e 2020, em que o assessor revelou que o ex-presidente não gosta de ninguém, assim como nenhuma figura, seja política, militar ou do campo religioso, tem apreço por ele. Todos que se aproximam de Bolsonaro têm interesse em seu capital político, de acordo com o ex-coordenador.
Em relação a Eduardo Bolsonaro, Fernandes afirmou que o deputado, que está de licença nos Estados Unidos, onde coordena uma forte campanha contra o governo brasileiro com figuras da extrema direita estadunidense, tem alguns problemas. Um deles se refere à dúvida se ele estará inelegível até o processo eleitoral pelos crimes que está cometendo nos EUA, como coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, de acordo com denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
"Tem um jogo que está sendo jogado que não depende exclusivamente do Bolsonaro. Depende das forças que estão ao seu redor e depende de questões objetivas", avaliou Fernandes. O jurista ainda acrescentou que se o cenário para a extrema direita é desfavorável, o campo progressista precisa "estar atento ao que está acontecendo e avançar".
"Avançar na luta política, na ocupação de espaços, ocupação das redes, ocupação do discurso", disse Fernandes. Ele afirmou, ainda, que Eduardo Bolsonaro é uma "preocupação como qualquer outra", como Michelle Bolsonaro, Carlos Bolsonaro ou qualquer outro nome que poderia ser a indicação do ex-presidente.
Popularidade e comunicação do governo Lula
Fernandes também avaliou a popularidade de Lula, que vem enfrentando desafios segundo as últimas pesquisas de avaliação do governo. Para o jurista, há alguns problemas que são estruturais em relação ao tema. Ele afirmou que o governo tem dificuldades no enfrentamento de grandes estruturas como o Centrão, o parlamento desfavorável e o sistema financeiro.
"E o presidente da República vem de uma escola que a conversa resolveria tudo. Só que essa percepção dele foi a percepção antes de existir um troço chamado bolsonarismo", disse Fernandes. Ele apontou que, com bolsonarista, o debate não acontece "dentro de uma racionalidade", e que é preciso lidar com "figuras que têm um comportamento de sabotadores permanentes". "Então, a gente tem problemas estruturais que não permitem que as entregas fiquem muito visíveis", declarou o jurista.
Fernandes acrescentou que, apesar de o governo Lula ter entregas muito positivas, as informações não chegam à sociedade porque a comunicação do governo não é eficaz. O jurista relembrou que passou os últimos anos criticando a comunicação do ex-ministro Paulo Pimenta (PT) e fazendo sugestões, e que a mudança para Sidônio Palmeira não funcionou. Para o jurista, Sidônio tem o "melhor produto de marketing", que é o presidente Lula, mas que não sabe usá-lo. Fernandes também defendeu que a comunicação do governo Lula tem que ampliar seu escopo de mídias, consumindo mídias alternativas, de esquerda e que levantam outras questões para além da mídia corporativa. Além disso, o governo também precisa, de acordo com o jurista, entrar em contato com a comunicação da extrema direita para preparar estratégias de combate à desinformação produzida por esse campo.
Fernandes ainda acrescentou que o governo não pode esperar que assuntos polêmicos como o do Pix, do INSS e outros percam força para aumentar a presença nas redes sociais, porque a extrema direita sempre vai criar novos problemas para o governo. "É a missão deles".
"A missão da oposição, em geral, é criticar o governo. Só que a gente tem uma oposição insana que joga da linha da cintura para baixo. Então, a gente precisa, ao mesmo tempo, ter enfrentamentos", afirmou Fernandes. "Nós precisamos fazer alguma coisa agora, e esse agora é trazer o presidente da República para ser o garoto-propaganda, já que estamos falando em marketing das nossas pautas, dos nossos pensamentos, dos nossos projetos, de um projeto de nação", finalizou Fernandes.
Confira a entrevista completa do jurista José Fernandes ao Fórum Onze e Meia
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