O empresário Ricardo Faria, que comanda a Global Eggs, empresa com sede em Luxemburgo que controla a Granja Faria (Brasil), Hevo Group (Espanha) e a recém-adquirida Hillandale Farms, deu uma longa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, onde, em determinado momento, reproduziu um discurso de ataque ao programa Bolsa Família, que tem se tornado comum.
Em certo trecho da entrevista, Faria foi questionado sobre a dificuldade de contratar funcionários e disparou: "Está um desastre no Brasil. Por duas razões. Primeiro, porque as pessoas estão viciadas no Bolsa Família. Não temos nem a chance de trazer as pessoas para treinar e conseguir uma vida melhor, porque elas estão presas no programa. Por outro lado, os jovens não querem mais ter essa relação trabalhista, uma carteira assinada e ter que ir todo dia para o mesmo lugar. Aqui não conseguimos, porque tem o Estado tutelando. Não é mais como antigamente, que o camarada chegava numa empresa e queria ficar 25 anos."
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Quem resolveu responder e desmascarar o empresário foi o comunicador — e também empresário — Felipe Neto, que desmontou o "argumento" do "rei do ovo". "Vejam como funciona a lógica do bilionário: O tal 'rei do ovo' falou que não consegue funcionário porque estão 'viciados em Bolsa Família'. Descobriram que a Granja Faria paga ridículos R$ 1.670 por mês para seus operadores de produção, sendo um dos requisitos 'morar na granja'. O salário, além de miserável, é 14% inferior à média nacional para a mesma função, uma média que já é absurdamente baixa", iniciou Felipe Neto.
Em seguida, Felipe Neto escancara a precariedade dos trabalhos ofertados pela empresa de Ricardo Faria: "Ele quer que a pessoa abandone a própria família, vá viver numa granja e passe o dia todo coletando ovo e manuseando galinhas para receber 1.600 reais (que ainda terá descontos)."
"Esse cara é BILIONÁRIO. Se ele reduzisse em alguns milhões sua distribuição de lucros anuais, poderia aumentar consideravelmente o salário de todas essas pessoas. Não estou nem falando de pagar 10 mil por mês, mas pelo menos um salário decente e honroso para que o cidadão tenha alguma perspectiva de vida. O que isso mudaria na vida de um bilionário? Nada", continuou o comunicador em sua crítica às declarações de Ricardo Faria.
Posteriormente, Felipe Neto ironiza as "boas" intenções do "rei do ovo": "Ele não faz isso, mas JURA, ele JURA MESMO, que se o governo tirar encargos e direitos trabalhistas, o salário dessas pessoas exploradas vai se multiplicar imensamente, ao invés dele embolsar toda essa economia sob forma de mais lucro. Não, ele jamais faria isso, com certeza ele daria cada centavo para seus operadores. É isso que essa gente sórdida quer que você acredite..."
"Vício no Bolsa Família?": Erika Hilton responde empresário
Ao tomar conhecimento da declaração de Ricardo Faria sobre a dificuldade em contratar pessoas, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) respondeu à crítica e ainda revelou que a Granja Faria, empresa de Ricardo, paga salários 14% abaixo da média.
"Todo mês, aparece um empresário com esse papinho. O Bolsa Família é uma política pública elogiada mundialmente que garante condições mínimas de sobrevivência para os beneficiários. Mas não se compara com um emprego de carteira assinada. Não existe 'vício em Bolsa Família'", inicia Erika Hilton.
Em seguida, a deputada desmonta o discurso empresarial que responsabiliza o Bolsa Família pela dificuldade em contratar: "Sequer é o Bolsa Família o problema desses empresários. Eles sabem que o fim do Bolsa Família representaria um desastre humanitário e só causaria danos à economia brasileira. Aliás, o Presidente Lula tomou a decisão acertada de permitir que os beneficiários do Bolsa Família continuem recebendo 50% do valor do benefício por 12 meses, caso encontrem um emprego. O problema dessa gente é o atual nível de desemprego no país, um dos menores da nossa história."
Ao concluir, Erika Hilton pontua que, atualmente, a classe trabalhadora vislumbra uma melhor qualidade de vida: "Isso dá aos trabalhadores a possibilidade de escolher melhor, de não se sujeitarem à primeira vaga exploratória que aparecer. Isso dá à juventude a possibilidade de recusar vagas na escala 6x1, de escolher um trampo com um pouco mais de dignidade. Em que a pessoa possa viver, mesmo que só um pouquinho, ao invés de sobreviver. E isso impede a Granja Faria (a principal empresa do 'rei do ovo') de, conforme os dados do Indeed, pagar um salário 14% abaixo da média nacional pros seus Operadores de Produção, a linha de frente da empresa."