Durante o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid no Supremo Tribunal Federal (STF), uma pergunta aparentemente aleatória feita pelo advogado de Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, passou despercebida pela maioria. O questionamento, no entanto, tinha um objetivo claro: desestabilizar Cid e testar sua reação diante de um ponto sensível.
Ao final da audiência, Vilardi perguntou se Cid já havia usado um perfil de Instagram que não estivesse em seu nome para tratar de delação. Cid respondeu, de forma hesitante, que não. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, interveio e pediu que o advogado explicasse a qual perfil se referia. Vilardi então mencionou o nome de usuário @gabrielar702, perguntando se Cid o conhecia. Visivelmente desconcertado, Cid respondeu que “não sabia se era o perfil da esposa”, mas reconheceu que Gabriela é o nome dela.
Te podría interesar
Segundo reportagem de capa da revista Veja desta semana, Cid mentiu em sua delação:
“Ao assinar o acordo de delação premiada com a Justiça, ele assumiu o compromisso de falar a verdade, manter em segredo o teor de suas revelações, não ter contato com outros investigados nem usar redes sociais”, afirma a revista.
Te podría interesar
O advogado de Bolsonaro sabia que ele havia desrespeitado esses dois pontos do acordo quando fez a pergunta durante depoimento.
“VEJA teve acesso aos diálogos. Eles mostram que Cid, já na condição de delator, fazia jogo duplo. Enquanto fornecia à PF informações sobre a movimentação antidemocrática, contava a pessoas próximas uma versão completamente diferente do caso”, diz ainda a revista.
Nova prisão de Cid
De acordo com apuração da Fórum, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foi preso novamente nesta sexta-feira (13), pouco depois da detenção do ex-ministro do Turismo Gilson Machado. No entanto, minutos depois, o STF revogou a prisão de Cid, que deverá prestar depoimento à Polícia Federal às 11h.
A princípio, o motivo da nova prisão de Cid, que foi revogada a seguir, não tem relação com a matéria publicada pela Veja.
A investigação apura uma tentativa de obstrução de Justiça por parte de Gilson Machado, que teria buscado um passaporte português com o objetivo de facilitar a fuga de Cid do Brasil.
A ordem de prisão de Cid havia sido determinada pelo STF, e ele já estava sendo conduzido pela PF à prisão quando a decisão foi revogada, a pedido de sua defesa. Os advogados do ex-ajudante de ordens reconhecem que ele tentou obter cidadania portuguesa em janeiro de 2023, logo após os atos golpistas em Brasília, mas alegam que Cid não tinha conhecimento da suposta iniciativa de Gilson Machado, que teria agido por conta própria.
Gilson Machado preso
Ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, o "sanfoneiro" Gilson Machado Neto foi preso na manhã desta sexta-feira (13) pela Polícia Federal.
Machado Neto é investigado pela PF por tentar obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, réu por participação em articulações golpistas no país. A Procuradoria-Geral da República concordou com o pedido e apontou que há indícios de tentativa de obstrução da Justiça.
Desqualificar delação
Bolsonaro publicou um longo tuíte na manhã desta sexta-feira com as informações publicadas na Veja. O objetivo dele e de toda a sua horda é tentar desqualificar a delação premiada do seu ex-ajudante de ordens. O fato, no entanto, segundo juristas e especialistas que se debruçaram sobre o assunto, não seria suficiente para livrar a cara do ex-presidente e seu entorno. Há provas fartas contra os réus de que eles tentaram de várias formas evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dar um golpe de Estado.
Veja o tuíte de Bolsonaro abaixo:
