O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), prestou depoimento nesta segunda-feira (9) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e adotou uma linha de defesa inusitada: alegou que suas próprias postagens de tom golpista nas redes sociais, que questionavam a lisura das urnas eletrônicas, não representavam seu pensamento. "Houve duas publicações minhas no Twitter que difere do meu pensamento sobre as urnas", declarou.
Ramagem é um dos oito réus do "núcleo crucial" da trama para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a eleição de 2022. Os depoimentos desta fase do processo, conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes, seguirão nesta terça-feira (10).
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Durante a oitiva, o deputado negou que tenha utilizado a Abin para monitorar ilegalmente ministros do STF ou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como aponta a acusação. "Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade", disse. Segundo ele, o sistema de espionagem Firstmile, citado pela Polícia Federal (PF), já não era mais utilizado pela agência desde 2021. “É mais uma indução a erro do juízo pela Polícia Federal”, acusou.
Ramagem também tentou se distanciar de documentos apreendidos pela PF que trazem sugestões de ataque ao sistema eleitoral. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), ele produziu textos que alimentaram as falas públicas do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o arquivo intitulado "Presidente TSE informa.docx", que continha argumentos contrários às urnas eletrônicas.
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Na versão apresentada ao STF, no entanto, Ramagem afirmou que se tratava de "documentos pessoais", criados apenas para "concatenar ideias". “Esses são documentos privados, são documentos privados. Não houve difusão qualquer, encaminhamento qualquer desse documento”, disse.
Contradições e a PEC do voto impresso
O parlamentar ainda alegou que, após a rejeição da PEC do voto impresso pela Câmara em 2021, não voltou a tratar do tema nem em público nem em suas anotações. “Depois dessa votação, não há mais nenhuma anotação privada, discussão pública, não há.”
Além de negar o envio de material a Bolsonaro, Ramagem afirmou que seus textos eram elaborados com base em “fontes abertas”, sem intenção de subsidiar ações institucionais ou manifestações públicas do então presidente. No entanto, segundo a PGR, uma das sugestões encontradas em suas anotações propunha o uso da Advocacia-Geral da União (AGU) para permitir que a PF descumprisse ordens judiciais desfavoráveis ao grupo político de Bolsonaro.
Assista a um trecho do depoimento de Ramagem:
Depoimentos continuam
Após os depoimentos de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e delator do caso, e de Ramagem, o STF ouvirá, a partir desta terça-feira (10), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e vice de Bolsonaro nas eleições).