O bolsonarismo fez mais uma encenação fracassada. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) prometeu aos seus seguidores um feito grandioso: que o chefe de sanções do Departamento de Estado dos Estados Unidos viria ao Brasil para discutir com seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, punições contra o ministro Alexandre de Moraes, relator de investigações sobre a tentativa de golpe e principal algoz jurídico da extrema direita.
O parlamentar chegou a insinuar que o governo Trump estaria prestes a aplicar a Lei Magnitsky contra Moraes, o que poderia resultar no congelamento de bens e na proibição de entrada nos EUA.
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O sub do sub
Mas, como já virou rotina, a realidade se impôs. Quem de fato se encontrou com Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (6), foi Ricardo Pita, conselheiro sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental – um funcionário de segundo escalão, subordinado ao verdadeiro coordenador de sanções, David Gamble.
Pita não tem qualquer autoridade para tomar decisões estratégicas nem atua no setor responsável por sanções. Sua função está ligada à diplomacia regional com países da América Latina, e seu papel é auxiliar em temas como cooperação multilateral e diálogo hemisférico. Ele sequer liderava a delegação norte-americana que visitou o Brasil.
Mesmo assim, Eduardo Bolsonaro tentou inflar a importância do encontro.
"Ontem, o Conselheiro Sênior Sr. Pita se reuniu com o Presidente Jair Bolsonaro em sua casa, onde ele se recupera de uma cirurgia. Bolsonaro destacou as ameaças urgentes à democracia brasileira e aos interesses dos EUA na região. Pita manifestou apoio ao Presidente Bolsonaro e prometeu levar sua mensagem de volta para Washington DC, capital dos EUA", escreveu através das redes sociais.
A tentativa de dar peso político ao gesto é desmentida pelos próprios fatos: o responsável direto pela área de sanções, David Gamble, manteve-se em reuniões com representantes do governo Lula, como o Itamaraty e o Ministério da Justiça, em uma agenda oficial que trata de cooperação no combate ao crime organizado – e não de Alexandre de Moraes.
Flávio desmente Eduardo
Para piorar, o próprio irmão de Eduardo, o senador Flávio Bolsonaro, o desmentiu publicamente. Segundo Flávio, que se reuniu com Pita na condição de presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, o encontro tratou apenas de segurança pública e da atuação de organizações criminosas como o Comando Vermelho e o PCC.
“O assunto aqui não tem nada a ver com sanções com relação a quem quer que seja, como foi tratado por parte da imprensa”, afirmou.
Diplomacia paralela e sem efeito
Desde que se licenciou do mandato e passou a viver nos EUA, Eduardo Bolsonaro vem tentando convencer setores do trumpismo radical a aplicar sanções contra autoridades brasileiras. No entanto, até agora, suas articulações diplomáticas se resumem a encontros com parlamentares obscuros e funcionários de segundo ou terceiro escalão, como Ricardo Pita, cuja posição é técnica e subordinada – sem qualquer autonomia para intervir em políticas externas de alto impacto.