PROXY NO BRASIL?

EUA intensificam tentativas de intervenção no Brasil com táticas de guerra híbrida

Pressões dos EUA sobre segurança, soberania territorial e relações internacionais acendem alerta para nova forma de intervencionismo disfarçado no Brasil

Bandeiras do Brasil e Estados Unidos.Créditos: Marcos Corrêa/PR
Escrito en POLÍTICA el

Nas últimas semanas, os sinais de ingerência estrangeira no Brasil vêm se tornando mais evidentes — e preocupantes. Em uma sequência de ações e narrativas orquestradas, os Estados Unidos reforçam o que especialistas em geopolítica chamam de guerra por procuração, ou “guerra de proxy”, buscando influenciar o país em diferentes frentes, da segurança interna à soberania territorial.

O método vem ganhando novos contornos. Diferente das intervenções militares explícitas do século passado, a guerra moderna se dá pela desestabilização institucional, pela imposição de agendas via mídia e diplomacia, e pelo uso estratégico de narrativas que criminalizam, ameaçam e pressionam governos que não se alinham automaticamente aos interesses de Washington — e se correlacionam, inclusive, com a forma com que o Brasil tem se posicionado em relação às políticas do chamado Sul Global.

Declaração unilateral de facções como "terroristas"

Em uma iniciativa controversa, o governo dos EUA passou a pressionar o Brasil a aceitar a classificação de facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações terroristas.

Acontece que, internamente, a legislação brasileira não os define dessa maneira — são organizações criminosas, sim, mas o rótulo de “terrorismo” é usado politicamente e implica desdobramentos graves, como a militarização da segurança pública e a abertura a ações internacionais sob o pretexto do “combate ao terror”.

Ao impor essa narrativa, os EUA não apenas desrespeitam a soberania jurídica brasileira, mas abrem caminho para justificar intervenções de inteligência e operações de segurança sob sua liderança.

Tentativa de controle de territórios estratégicos

Fontes da diplomacia indicam aos jornais brasileiros que os EUA demonstraram interesse direto em obter acesso militar às bases de Natal (RN) e Fernando de Noronha. Ambas possuem localização geoestratégica no Atlântico Sul e são essenciais para o controle da rota Brasil-África-Europa.

A entrega dessas áreas representaria uma perda concreta de soberania e um retorno ao cenário de subordinação militar do Brasil aos comandos estrangeiros.

Essa tentativa ecoa os tempos da Guerra Fria, quando o continente latino-americano era tratado como quintal dos EUA, com regimes autoritários sendo sustentados a partir de acordos militares e interesses geopolíticos externos.

Acusação de presença do Hezbollah

Em outra frente, autoridades estadunidenses passaram a divulgar supostas informações sobre a presença do Hezbollah no Brasil. Ainda que não haja comprovação oficial ou investigações brasileiras que confirmem tal atuação, a acusação serve ao propósito de tensionar as relações do Brasil com países do Oriente Médio, além de justificar políticas de segurança baseadas no alinhamento automático com os EUA e Israel.

É um padrão repetido: acusa-se, pressiona-se e, muitas vezes, impõe-se ações unilaterais sem o devido processo legal no país acusado.

Brasil como “fábrica de espiões russos”

Por fim, parte da mídia hegemônica dos EUA passou a difundir a ideia de que o Brasil teria se tornado uma “fábrica de espiões russos”, uma narrativa que remete diretamente ao discurso anticomunista da Guerra Fria.

Essa construção midiática busca isolar diplomaticamente o Brasil e intimidar qualquer aproximação com blocos alternativos, como o BRICS, especialmente no atual cenário de conflito entre potências ocidentais e o eixo China-Rússia.

O que é guerra de proxy?

A guerra por procuração é um modelo de conflito indireto em que uma grande potência financia, orienta ou manipula atores locais (governos, grupos armados, ONGs, mídia) para defender seus interesses estratégicos.

Em vez de invadir diretamente, os EUA atuam por meio de influência econômica, militar e simbólica. É o que se viu no Vietnã, no Afeganistão, na Síria — e, agora, desponta como risco no Brasil.

Resistência e soberania

A escalada das ações norte-americanas deve acender o alerta na sociedade brasileira. Não se trata de teorias da conspiração, mas de um padrão histórico de dominação que se repete sob novas formas. Cabe à população, aos movimentos sociais e às forças democráticas resistirem a qualquer tentativa de entrega da soberania nacional.

O Brasil precisa reafirmar sua autonomia, fortalecer sua política externa independente e rejeitar o papel subalterno que potências estrangeiras tentam nos impor. A história já mostrou que onde há ocupação militar e submissão política, há também repressão, perda de direitos e dependência.

O que é o Sul Global

Sul Global é um conceito geopolítico e econômico utilizado para descrever os países que foram historicamente marginalizados pelas potências coloniais europeias e que, ainda hoje, enfrentam desigualdades estruturais no sistema internacional. O termo inclui:

  • América Latina
  • África
  • Oriente Médio
  • Sul e Sudeste Asiático
  • Oceania (exceto Austrália e Nova Zelândia)

Mais do que uma divisão geográfica, o Sul Global representa um posicionamento crítico frente à dominação histórica e à atual ordem internacional, exigindo maior autonomia, justiça econômica, soberania e inclusão.

Países do Sul Global compartilham desafios como:

  • Desigualdade social e econômica
  • Dependência de exportações de commodities
  • Dívidas externas elevadas
  • Vulnerabilidade a crises globais e às mudanças climáticas

A relação do Sul Global com o BRICS

O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) representa uma das principais coalizões de países do Sul Global que buscam alternativas à hegemonia ocidental. Apesar de China e Rússia serem potências militares e econômicas, ambas enfrentam exclusão ou antagonismo em estruturas como o G7 e a OTAN — o que reforça sua adesão à lógica do Sul Global.

A partir de 2024, o BRICS passou a contar com novos membros plenos: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Além disso, há nove países-parceiros que participam de atividades do bloco, como Cuba, Bolívia, Malásia, Cazaquistão, Nigéria, Tailândia, Bielorrússia, Uganda e Uzbequistão.

O BRICS representa, assim, uma tentativa de reequilibrar as forças globais e construir um novo modelo de cooperação baseado na multipolaridade e no respeito à soberania nacional.

O que é o Ocidente

O termo Ocidente não se refere apenas a um ponto cardeal ou a uma região geográfica. Na geopolítica contemporânea, o Ocidente designa um conjunto de países que compartilham valores políticos, econômicos e culturais alinhados à democracia liberal, à economia de mercado e à hegemonia dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.

Os países comumente considerados parte do Ocidente são:

  • Estados Unidos
  • Canadá
  • Países da Europa Ocidental (como Alemanha, França, Reino Unido, Itália)
  • Austrália e Nova Zelândia
  • Japão (em termos econômicos e diplomáticos, embora geograficamente no Leste Asiático)

Esses países formam o núcleo das principais alianças político-militares e econômicas, como OTAN, G7 e União Europeia, e exercem forte influência nas normas internacionais, na mídia global e nas instituições multilaterais.

Quem está fora do Ocidente

Países da África, América Latina, Oriente Médio e boa parte da Ásia são, em geral, considerados fora do bloco ocidental. Embora muitos desses países sofram influência cultural e econômica do Ocidente, não fazem parte das suas estruturas centrais de poder ou de suas alianças políticas e militares.

O Brasil, por exemplo, é frequentemente percebido como um país "ocidentalizado" devido à herança europeia e aos vínculos com os EUA, mas, do ponto de vista geopolítico, está inserido no chamado Sul Global.

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