A vingança do clã Bolsonaro para tentar evitar a prisão do patriarca, Jair Bolsonaro (PL), que deve ser decretada nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pode criar uma crise diplomática sem precedentes na história das relações entre Brasil e Estados Unidos.
O anúncio de possíveis sanções pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em resposta a uma série de mentiras papagueadas pelo deputado republicano, da Flórida, Cory Mills é apenas a ponta do iceberg do ataque à soberania tramado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) junto aos extremistas da ultradireita no Capitólio e no governo Donald Trump.
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Na indagação, Mills repetiu a narrativa bolsonarista ao falar "sobre o alarmante declínio dos direitos humanos no Brasil", a "censura generalizada", "perseguição política visando toda a oposição incluindo jornalistas e cidadãos comuns", além da "prisão política do ex-presidente Bolsonaro".
Tudo lido dentro do script passado por Eduardo, que esteve no gabinete de Mills na semana passada. Na ocasião, levou o "poste" Filipa Barros (PL-PR), colocado por ele na presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, para dar um caráter pretensamente "institucional" ao encontro.
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Acompanhado do fiel escudeiro Paulo Figueiredo, neto do ditador João Baptista Figueiredo, o filho "03" de Bolsonaro perambula pelos bastidores do poder nos EUA para estender a possível sanção a Moraes por atacar "direitos humanos" - o que já é risível se tratando do clã do ex-presidente -, usando a Lei Magnitsky, a outros ministros do Supremo, aos familiares deles e a outras autoridades que não compactuem com a narrativa bolsonarista de "ditadura do judiciário".
Eduardo anunciou a estratégia no dia 23 de abril na live ao lado do pai, ainda na UTI, para sortear um capacete de grafeno.
"Uma vez sancionado [Moraes], eu duvido que outros ministros da Suprema Corte vão se enveredar por esse caminho. Não faz sentido ir para o mesmo caminho e tomar as mesmas sanções. Porque para o Trump sancionar 1, 2, 3, 4 não vai fazer diferença nenhuma", revelou.
A estratégia é que além de Moraes, as sanções se estendam à esposa do ministro, usando a prerrogativa de que a renda do sancionado viria do casal. Caso não puna os dois, Moraes não teria a "pena de morte financeira", como prevê a Lei que usa bloqueios de contas em conluio com o sistema financeiro internacional.
Familiares
O entendimento, levado por Eduardo Bolsonaro, pode resultar no bloqueio das contas de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, e do escritório de advocacia, onde trabalham dois filhos do casal, que também ficaria impedido de atuar em casos de empresas dos Estados Unidos ou que tenham negócios com o país.
Caso a punição seja ignorada, as sanções poderiam atingir até mesmo as empresas que são assessoradas pelo escritório, causando um efeito em cascata.
No entanto, Eduardo Bolsonaro quer um ataque ainda maior à soberania do país, com sanções a todas esposas de ministros do Supremo que tenham escritórios de advocacias - ou até mesmo outros negócios que fazem parte da renda das famílias.
Nesse caso, seriam sancionadas, por exemplo, Guiomar Feitosa Mendes, esposa de Gilmar Mendes, que é sócia do escritório Sérgio Bermudes Advogados desde 2010.
Roberta Rangel, esposa de Dias Toffoli, também poderia ter as contas da Rangel Advocacia bloqueadas. Assim como Valeska Teixeira Zanin Martins, esposa de Cristiano Zanin, que assumiu o escritório de advocacia da família quando o marido foi alçado ao Supremo.
Eduardo e Paulo Figueiredo ainda pedem sanções a outras autoridades que não compactuem com a narrativa de "perseguição" ao clã Bolsonaro, como o delegado Fábio Shor, que comandou a investigação da organização criminosa golpista, e membros da Procuradoria-Geral da República (PGR), que atuaram no caso sob o comando de Paulo Gonet. Nomes de juízes auxiliares do STF, em especial dos que atuam no gabinete de Moraes, também estariam na lista.
Caso o governo dos EUA leve a cabo os pedidos do clã Bolsonaro, que visa a eleição presidencial de 2026, Trump criará a maior crise diplomática na relação com o Brasil, já que o governo Lula deve reagir às possíveis sanções aos ministros do Supremo de forma "institucional", ou seja, como caso de Estado, por meio do Itamaraty.
Além da globalizada disputa entre a ultradireita neofascista e progressistas, ainda existe a disputa pela hegemonia do planeta entre EUA e China, que faz parte dos Brics, bloco do qual o Brasil faz parte e que confronta os interesses estadunidenses de manter seu presidente - no caso, Trump - como "xerife" do mundo.