Uma nova troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), e Fabio Wajngarten revela que o ex-Secom atuou - ou ainda atua - para alçar o pastor Silas Malafaia, guru do ex-presidente, como candidato à Presidência da ultradireita neofascista em 2026.
A troca de mensagens, que consta entre as mais de 20 mil conversas detectadas pela Polícia Federal (PF) no celular de Cid, aconteceu em 19 de janeiro de 2023, dias antes da dupla detonar e fazer chacota com as especulações em torno de uma candidatura de Michelle Bolsonaro (PL).
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No diálogo, revelado pela coluna de Bela Megale no jornal O Globo deste sábado (17), o ex-Secom já prevê que Bolsonaro ficaria inelegível e diz a Cid que seria “bom a direita começar a pensar” nas eleições presidenciais em 2026. Cid responde que "o problema é (sic) nomes...".
"Vou meter o Malafaia. Pode escrever", respondeu, de bate-pronto, Wajngarten, causando espanto no militar. "Sério? Tem perna? Interessante", respondeu Cid, sinalizando que poderia aderir à ideia.
Wajngarten, então, expõe a tática sórdida da ultradireita, de lançar um "outsider", como foi cunhada a narrativa sobre Bolsonaro em 2018 - mesmo com o ex-presidente estando há 27 anos na Câmara Federal -, e de usar a religião para ludibriar o eleitorado.
Para convencer Cid, o ex-Secom teria listado as características de Malafaia para "metê-lo" como candidato: “é temente a Deus”, “possui uma religiosidade muito alta” e “oratória impecável”.
"Ele [Malafaia] girando o Brasil, levando a palavra de Deus. Mete um economista locomotiva. O agro virá. O empresariado virá", emendou Wajngarten, com a mesma tática que fez a mídia liberal, os financistas e a burguesia aderirem à candidatura Bolsonaro em 2018: colocar um ultraliberal como Paulo Guedes no "super" ministério da Economia.
Pix para Bolsonaro e dobradinha com Malafaia
Com Bolsonaro extremamente irritado com as mensagens divulgadas nos últimos dias, Wajngarten saiu de cena e se limitou a compartilhar, nas redes sociais neste sábado, a mais recente vaquinha liderada pelo ex-ministro Gilson Machado para arrecadar doações via pix para o ex-presidente.
Na última publicação, há cinco dias, no Instagram, o ex-Secom expôs a dobradinha com Malafaia para tentar conter o movimento articulado por Michel Temer (MDB) para lançar outro ex-ministro, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), como candidato anti-Lula em uma "direita sem Bolsonaro".
Em publicação compartilhada, o ex-Secom divulgou notícia que diz que "Wajngarten e Malafaia rechaçam articulação de Temer e reagem chapa bolsonarista".
"'Wajngarten, por exemplo, chamou o movimento 'direita sem bolsonaro' de palhaçada, e que se persistisse essa conspiração, ele iria 'manobrar dia e noite por uma chapa pura'”, diz o texto.
Em seguida, a "notícia" volta a divulgar a candidatura de Michelle Bolsonaro, defendida por Malafaia nos últimos dias, mas que não nutre a simpatia do ex-Secom.
"O pastor Malafaia, em sintonia, defendeu o nome de Michelle Bolsonaro (PL) no topo da ordem de sucessão 'caso o vergonhoso impedimento de Bolsonaro persista'”, diz a publicação.
"Prefiro o Lula"
A mais recente crise no núcleo central do Bolsonaro, envolvendo a disputa interna no clã, explodiu na última sexta-feira (16) com a divulgação pelo portal Uol de um troca de mensagens em que Cid e Wajngarten detonam Michelle Bolsonaro e fazem chacota com as especulações de uma candidatura da ex-primeira-dama ao Planalto em 2026.
A conversa, datada de 27 de janeiro de 2023, um dia após Michelle voltar de Orlando, onde fugiu com o marido no dia 30 de dezembro de 2022, antes da posse de Lula.
Cid estava com Bolsonaro nos EUA e recebeu de Wajngarten a notícia de que Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, estaria cogitando lançar Michelle candidata à Presidência em 2026.
Em tom de chacota, Cid responde: "Prefiro o Lula", com uma "hahahahahahaha", de gargalhadas, em seguida. Wajngarten reage: "idem".
O ex-Secom, homem de confiança de Bolsonaro, passa a detonar a ex-primeira-dama, compartilhando uma mensagem que dizia que o "PL vai pagar 39k por mês para a Michele (SIC) 'porque ele carrega o bolsonarismo sem a rejeição do Bolsonaro". Em seguida, outra mensagem encaminhada por Wajngarten indaga: "em que mundo o Valdemar está vivendo?".
Cid, então, manda um áudio, transcrito na troca de mensagens, revelando o que pensa da ex-primeira-dama. "Cara, se a dona Michelle tentar entrar pra política num cargo alto, ela vai ser destruída, porque eu acho que ela tem muita coisa suja... não suja, mas ela né, a personalidade dela, eles vão usar tudo contra pra acabar com ela".
m 5 de fevereiro, os dois voltam ao assunto após Cid enviar uma reportagem sobre a possível candidatura de Michelle.
Wajngarten então expõe a Cid uma suposta conversa com Bolsonaro sobre o assunto. "Cada vez que expõem a Dama para um diferente aventura. Falaram até agora que ela seria vossa sucessora e concorreria para Presidência. Agora falam no Senado Rio e SP", diz o ex-Secom, que mostra a Cid uma indagação que teria feito ao ex-presidente. "Tem anuência do Sr?".
"Ele me ligou na hora", emenda Wajngarten, sem revelar o conteúdo da conversa.
Cid aproveita a deixa e faz mistério sobre o que pensa de Michelle: "E ela tem muito furo... Muita coisa para queimar... inclusive no passado", afirma.
Black Tie sem Bolsonaro
Com a crise instalada no clã, Michelle apareceu sozinha na festa de luxo promovida pela influenciadora bolsonarista Bella Falconi, que celebrou seus 40 anos em Belo Horizonte na noite de sexta-feira (16).
Em rápida entrevista à aniversariante, publicada nos stories do Instagram, Michelle Bolsonaro não explicou a ausência do marido, se limitando apenas a dizer que "Jair mandou um beijo para você".
"Um beijo presidente querido. A gente te ama. Nos meus 50 você vem, tá?", disparou a influenciadora.
Nas redes, Michelle e Jair Bolsonaro não se pronunciaram sobre a divulgação da troca de mensagens em que Cid e Wajngarten fazem chacota com a ex-primeira-dama e levantam a questão sobre o passado dela. Em entrevista, o ex-presidente disse que os dois aliados "falaram besteira" e sinalizou que haverá caça às bruxas sobre os ataques a Michelle.
Na entrevista ao canal bolsonarista, o ex-presidente mostrou certo desespero e previu a própria morte, caso seja condenado e preso. "Não sei até quando vou resistir, vou morrer, não vai demorar", disse, em um misto de vitimismo e pânico.
“Com 70 anos de idade e com a perspectiva de cumprir até 40 anos de prisão, sem mais recursos ou alternativas, vou morrer dentro da cadeia", emendou.
Bolsonaro ainda citou a condenação recente da deputada Carla Zambelli (PL-SP) por falsidade ideológica e invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, além da investigação envolvendo o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos ligados ao mesmo inquérito, para argumentar que esse seria um exemplo do que ele chama de “ativismo judicial”, que teria como objetivo “inviabilizar candidaturas da direita” para as eleições de 2026.
“Me prendam. Tenho 70 anos, quase morri numa cirurgia. Não sei até quando vou resistir,” reforçou outra vez.
Na mesma entrevista, o ex-presidente insistiu na teoria de que não teria nada a ver com a tentativa de golpe de Estado porque estava nos EUA em 8 de janeiro de 2023, chamando o episódio de “golpe da Disney” - assista.