Quem acompanhou a cobertura do fracassado ato de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista no domingo (6), sob o pretexto de pedir anistia para os golpistas criminosos do 8 de janeiro de 2023, deve ter ficado impressionado com a foto de sete governadores de estado perfilados ladeando o “mito” antes do bizarro e rocambolesco discurso constrangedor regado a muita popcorn e ice cream.
Os repórteres que estavam no local, no calor da coisa, informavam em tempo real e com entusiasmo que o ex-presidente “recebia expressivo apoio” desses líderes estaduais. No mundo real, o negócio era outro e o clima foi inclusive descrito por muita gente como de “mal-estar” e notório “interesse político”. Ou seja, nenhum deles estava ali demonstrando “apoio” coisíssima nenhuma. Aliás, vamos corrigir: dois possivelmente até estavam, mas os outros cinco não.
Te podría interesar
Jorginho Melo (PL), de Santa Catarina, e Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso, por razões semelhantes são bolsonaristas até a medula e subservientes clássicos. Liderando dois estados vistos como os mais bolsonaristas do país, eles de fato queriam levar “sua força” ao “capitão” pré-presidiário. Já os demais, esses estavam mais para frequentadores de velório que comparecem só para brigar pela herança.
Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, está em seu segundo mandato e possivelmente tentará o Senado. Ele é uma importante figura política num estado onde outros dois homens têm forças eleitorais semelhantes à dele: os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Eduardo Braga (MDB-AM), que ora se configuram como “quase aliados”, ora aparecem como adversários ferrenhos. Aziz teve papel central presidindo a CPI da Covid no Senado, em 2021, e virou a figura do próprio demônio para os bolsonaristas, enquanto Braga é amplamente visto como um aliado do governo Lula (PT). Só resta a Lima se agarrar a Bolsonaro para que no próximo ano tente tragar seus eleitores amazonenses, evitando assim morrer na praia.
Te podría interesar
Já Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, alimentam o sonho da Presidência da República, embora em dimensões diferentes. O primeiro seria notoriamente o sucessor natural de Jair Bolsonaro, até porque sempre foi colocado como seu pupilo e tem conseguido manter um eleitorado fidelíssimo em São Paulo, o estado mais rico e populoso do Brasil. Tarcísio não pode nunca, jamais, se distanciar de Bolsonaro, ou contrariá-lo, já que uma simples ordem do “mito” o lançaria no balde dos traidores.
Caiado, o apressado, já lançou pré-candidatura à Presidência e precisa aparecer em toda e qualquer aglomeração de direita ou de extrema direita. Embora não consiga de forma alguma nacionalizar o seu nome, e mesmo tendo despertado a fúria de Bolsonaro ao desobedecê-lo e lançar seu nome ao Planalto, ele não teria trinta segundos de vida eleitoral em 2026 se se tornasse um pária no bolsonarismo.
Ratinho Junior e Zema, embora sonhem com a chefia do Estado, sabem que esse sonho está muito distante. No fundo, bem lá no fundo, projetam alguma possibilidade num cenário em que Bolsonaro esteja preso e a extrema direita se fragmente em vários núcleos, apostando na desordem do eleitorado ultrarreacionário numeroso. Eles precisam aparecer nacionalmente e, sobretudo, aparecer ao lado de Bolsonaro para pegar o máximo de migalhas possível.