CONSELHO DE ÉTICA

Relator que pediu cassação de Glauber Braga deu chute em jornalista para defender o tio, ACM

Em 2001, Paulo Magalhães desferiu "socos e pontapés" no jornalista Maneca Muniz, que autografava o livro "As Veias Abertas do Carlismo" na Câmara dos Deputados. Sobrinho de ACM nunca foi punido e está no 7º mandato

Glauber Braga encara o relator, Paulo Magalhães, durante a sessão do Conselho de Ética sobre sua cassação.Créditos: Lula Marques / Agência Brasil
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Relator do parecer, encomendado por Arthur Lira (PP-AL), em que pede a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) por expulsar o militante do MBL Gabriel Costenaro, que o perseguia há meses, o deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA) foi protagonista de uma agressão a "socos e pontapés" do jornalista e escritor Maneca Muniz, em abril de 2001.

À época, o escritor acompanhou uma comitiva de deputados estaduais baianos que denunciavam esquemas de corrupção e achaques do então senador Antônio Carlos Magalhães (PFL), o ACM, tio de Paulo Magalhães.

Muniz foi agredido pelo relator do caso Glauber Braga quando autografava exemplares de seu livro "As Veias Abertas do Carlismo", que denuncia uma série de falcatruas do político baiano, que morreu em 2007, mas deixou uma dinastia na política, especialmente no Centrão fisiológico.

Segundo o jornal O Globo da época, houve "socos e pontapés na Câmara". "Deputado baiano agride jornalista para defender ACM”, diz o texto.

Diferentemente do que fez com Glauber Braga, Paulo Magalhães não foi levado ao Conselho de Ética e segue na Câmara Federal em seu sétimo mandato, desde que foi eleito para o cargo pela primeira vez, em 1999.

Cassação

Em seu parecer, Magalhães  acusa Glauber Braga de desvios de conduta ao expulsar, com chutes, o militante Gabriel Costenaro, do Movimento Brasil Livre (MBL), do interior da Casa, em abril de 2024.

O deputado, no entanto, se defendeu de ataques do extremista, que atacou a mãe de Glauber, Saudade Braga, em abril de 2024, e vinha fazendo achaques recorrentes a ele e sua família.

"Diante das provas produzidas nos autos, verifica-se que o representado [deputado Glauber Braga] extrapolou os direitos inerentes ao mandato, abusando, assim, das prerrogativas que possui. Portanto, é imperioso admitir que o representado, com seus atos, efetivamente incidiu na prática da conduta, sendo cabível, no caso sob exame, a sanção da perda do mandato", argumenta o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA).

Em um histórico discurso de defesa, Braga acusou Magalhães de estar a serviço de Arthur Lira (PP-AL), segundo ele o verdadeiro autor do relatório.

"O relator, no seu desespero em poder agradar quem de fato escreveu o relatório, nem disfarçou O que eu disse naquele dia, deputado, e o que eu repito aqui no dia de hoje, é que quem escreveu o seu relatório foi o senhor Arthur Lira. E hoje, mais do que dizer, eu vou provar, eu vou trazer elementos objetivos que demonstram que o seu relatório já estava comprado, previamente comprado", disse Glauber.

"Chiquinho Brazão, casos de corrupção, deputado que deu um soco em um sindicalista em uma comissão, deputados envolvidos na tentativa de golpe do dia 8, deputada que conclamou os generais a darem um golpe de Estado e correu atrás de uma pessoa com uma pistola na rua que está sendo condenada fora do espaço institucional do Congresso, mas que aqui não foi...", disse Glauber.

"Mas quem deve ser condenado é o parlamentar que denunciou o senhor Arthur Lira o seu esquema do orçamento secreto e aquele que defendeu a honra da sua mãe contra um mini bandido pago pelo MBL", completou o deputado.

Ele acusou o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), relator do caso, de ter se beneficiado das emendas de orçamento secreto em ação coordenada com Arthur Lira em cidades da Bahia.

"Eu tô lutando contra a compra de apoio político que já tava pré-datada, pré-fixada a partir daquilo que ele indicou de orçamento secreto em articulação com o senhor Arthur Lira nessas cidades. Eu desafio o relator a dizer que não foi ele quem fez a indicação desses recursos de orçamento secreto em pacto com o ex-presidente da Câmara", afirmou Glauber.

"Eu termino esse processo com o coração tranquilo, com espírito de luta, que eu não vou parar por aqui, não devo a nenhum daqueles que achavam que eu ia beijar a mão ou ser enquadrado um único favor, e me orgulho disso. Se o relator pensou, ou se o senhor Arthur Lira pensou que, a partir desse processo, eu ia me transformar em um deputado mais comportado aos seus interesses, estavam muito enganados. Terminamos essa etapa de hoje aqui, vamos para a próxima etapa na semana que vem e depois vamos para a etapa do plenário, com a consciência de que a gente agiu corretamente e de que a luta continua", completou o deputado - assista ao vídeo.

O relatório de Magalhães ainda será votado no Conselho de Ética. Ele só será cassado após votação do plenário da Câmara, que exige mínimo de 257 votos entre os 513 deputados.

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