ENTREVISTA

Berzoini: "Brasil é paraíso fiscal para o capital e inferno fiscal para o trabalho"

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, ex-ministro analisou declaração de Armínio Fraga e proposta do governo para taxar super-ricos

Ricardo Berzoini.Créditos: Marcelo Camargo/Agencia Brasil
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O ex-deputado federal Ricardo Berzoini, que já foi ministro do Trabalho, das Comunicações, da Previdência Social e das secretarias de Relações Institucionais durante os governos Lula e Dilma Rousseff, esteve no Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (14) para falar sobre as principais questões econômicas do país atualmente.

O ex-ministro comentou a declaração do ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga, que defendeu, durante uma conferência na Universidade de Harvard, que o Brasil deveria congelar o salário mínimo por seis anos. 

Para Berzoini, a fala do ex-presidente apenas "avaliza o que pensa toda a Faria Lima e todos os economistas liberais do Brasil". "Não só defendem isso, como defendem uma nova reforma da previdência", destacou o ex-ministro. 

Ele ainda afirmou que, durante seu mandato como deputado, Armínio assumiu o BC e os dois travaram grandes batalhas quando o parlamentar era da Comissão de Finanças e da Comissão de Orçamento. Segundo Berzoini, o ex-presidente do BC falava uma série de "asneiras, mas com fundamento ideológico".

"Por exemplo, a questão do salário mínimo foi o motivo principal de unificar uma turma em torno do Aécio Neves em 2014. Teve um jantar na casa do pessoal da Suzano, que na época juntou boa parte do PIB nacional com Aécio, e a pauta principal da noite foi: 'o salário mínimo brasileiro está muito alto. Essa política de aumento real não pode continuar'. E ali começaram já a fomentar, tentar eleger o Aécio. Não conseguiram eleger o Aécio, caminharam para o golpe contra Dilma", afirmou Berzoini. 

"Esse pessoal acha que o brasileiro tem que ganhar pouco mesmo e não pode nunca ter a expectativa de melhorar", acrescentou o político. Berzoini ainda declarou que Armínio é o "retrato da burguesia nacional medíocre, que, para ajustar o orçamento, só pensa em tirar do pobre". 

Em relação à proposta do governo federal para taxar os super-ricos, quem ganha acima de R$ 50 mil, o político afirmou que, apesar de apoiar, ainda acha a proposta "muito tímida".

"Ela é uma proposta envergonhada. A proposta correta seria colocar o dividendo na tabela do Imposto de Renda: 27,5% sobre os dividendos na fonte, tributar na fonte como os salários são tributados na fonte", defendeu Berzoini. 

Ele também afirmou que o governo "errou" ao propor algo muito próximo ao objetivo final e argumentou que no Congresso Nacional é preciso sempre negociar. No entanto, ele disse que o governo não deve facilitar a negociação. Porém, Berzoini destacou que o objetivo principal é aprovar a isenção. "Aprovando a isenção, dá para pensar qual é a outra forma de compensar. Mas não pode ser em cima dos trabalhadores. Tem que ser em cima do capital", ressaltou.

"O Brasil é um paraíso fiscal para o capital e o inferno fiscal para o trabalho. Quem trabalha, paga muito. E quem vive de renda, paga pouco ou não paga", declarou Berzoini. 

Ele ainda defendeu que o Brasil só será um país desenvolvido quando tiver um "projeto econômico de médio e longo prazo com sistema tributário que tribute quem tem capacidade tributária, e um sistema financeiro que não viva de juros, mas que viva de fazer o crédito, que não depende só de taxa de juros". 

Guerra tarifária entre EUA e China

Berzoini também falou sobre a guerra tarifária entre Estados Unidos, sob comando de Donald Trump, e China, com Xi Jinping. O político relembrou uma famosa frase da ex-presidenta Dilma, em que ela afirmava, em outro contexto, que "todo mundo ia perder". "Eu acho que a profecia da Dilma está se realizando, né? Todos vão perder no final", afirmou.

Ele ressaltou que, em relação ao Brasil, que está com expectativas de que as consequências dessa guerra tarifária não sejam tão drásticas, talvez o agro se dê bem, mas não o país no geral. "A Europa está numa situação de impasse terrível, porque tem que ficar ali ainda naquela visão da OTAN, mas, ao mesmo tempo, percebendo o desprezo do Trump em relação à Europa", disse Berzoini. "E a América do Sul vai toda se ferrar", acrescentou. 

Para ele, o projeto de Trump é "criar um nível de acirramento com a China para justificar uma ofensiva no campo político e talvez no campo militar para criar uma nova tentativa de agrupar a Europa e parte da Ásia, Japão e Coreia do Sul, sobre o guarda-chuva da política do Departamento do Estado Norte-Americano".

Na avaliação de Berzoini, a situação econômica aliviou na última semana somente por causa de uma pressão do empresariado americano, mas que acredita que Trump irá "forçar a barra o máximo que ele puder". "Ele só será impedido se o grande capital norte-americano colocar para ele que vai apoiar os democratas na eleição de meio de mandato."

Confira a entrevista completa do político Ricardo Berzoini ao Fórum Onze e Meia 

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