A defesa do general da reserva Estevam Theophilo refuta as acusações de que ele teria incentivado ou coordenado as invasões de 8 de janeiro, alegando que o militar não tinha comando de tropas e já havia sido substituído no cargo no momento dos atos golpistas. No entanto, a estratégia adotada na peça jurídica levanta questionamentos sobre as circunstâncias de sua atuação e seu possível envolvimento indireto no contexto da crise institucional.
A petição apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) argumenta que Theophilo não exerceu influência sobre os militares que estiveram envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes e que qualquer menção ao seu nome nesse contexto carece de fundamentação concreta. A defesa solicita o depoimento de generais de alta patente, Freire Gomes e Júlio César de Arruda, como forma de atestar a lealdade e legalidade das ações do ex-comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter).
Te podría interesar
Tentativa de distanciamento dos atos de 8 de janeiro
A linha argumentativa da defesa sustenta que Theophilo não possuía qualquer influência sobre as tropas mobilizadas no dia das invasões. O documento ressalta que, quando os ataques ocorreram, o general já estava afastado do comando direto das operações militares, e que sua atuação no Exército foi exclusivamente técnica e institucional.
Contudo, essa alegação esbarra em evidências levantadas pela investigação, que apontam para uma rede de comunicação entre militares da reserva e da ativa que teria contribuído para a adesão de integrantes das Forças Armadas à retórica golpista. Há indícios de que sua presença e influência dentro do Exército foram relevantes para a manutenção de um ambiente favorável à insatisfação política e institucional no período pós-eleitoral.
O peso dos depoimentos e as contradições na defesa
A solicitação para que generais como Freire Gomes e Arruda sejam ouvidos no processo pode ser interpretada como uma tentativa de reforçar a tese de que Theophilo sempre esteve alinhado com a hierarquia e o respeito às instituições democráticas. Entretanto, a defesa não aborda se esses generais de fato tinham conhecimento das interações e encontros que Theophilo manteve com aliados políticos de Bolsonaro.
Além disso, a petição não detalha quais informações os generais citados poderão oferecer em benefício do réu. Isso levanta dúvidas sobre a real eficácia dessa estratégia, já que, se os depoimentos reforçarem a ideia de que havia resistência no Exército ao golpe, também podem expor divergências internas entre os militares e setores do governo Bolsonaro que queriam seguir adiante com a ruptura institucional.
A defesa, ao buscar reforçar a imagem de Theophilo como um oficial legalista, pode acabar criando contradições perigosas para sua estratégia, especialmente porque a própria PGR já indicou que pretende aprofundar investigações sobre relações dentro do Exército que permitiram a radicalização de parte da tropa.
Uma defesa que pode se voltar contra Theophilo
A tentativa da defesa de desassociar Theophilo dos eventos de 8 de janeiro se apoia na tese de que ele não exercia comando sobre as tropas envolvidas. No entanto, a ausência de explicações concretas sobre seu papel no período anterior aos atos golpistas deixa em aberto uma série de questões que podem ser exploradas pela acusação.
Se, por um lado, a defesa busca reforçar a ideia de que o general não teve envolvimento direto com os atos antidemocráticos; por outro, a solicitação de depoimentos de generais pode acabar gerando mais material para a PGR aprofundar a análise da participação de setores do Exército na crise institucional.
O fato de que Theophilo foi mantido em posição de destaque dentro do Exército mesmo após a posse de Lula também adiciona um elemento de dúvida sobre o real impacto de sua atuação nos bastidores do Alto Comando. Se os depoimentos dos generais convidados não forem uníssonos em sua defesa, a estratégia da petição pode se tornar um tiro pela culatra, aprofundando ainda mais as suspeitas sobre a influência do general na radicalização de setores militares no Brasil pós-eleição de 2022.