A defesa do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) sua resposta à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). No documento, os advogados não negam que houve uma reunião com outros militares na residência de Braga Netto em 12 de novembro de 2022, mas tentam minimizar seu impacto e desqualificar as provas apresentadas pela acusação.
A PGR sustenta que a reunião foi parte da articulação de um golpe de Estado para anular o resultado das eleições presidenciais, contando com a participação de figuras centrais da tentativa de ruptura institucional. A defesa, por sua vez, alega que não há "nenhum fato concreto" que comprove que a pauta do encontro envolvia um golpe, mas também não oferece uma versão alternativa sobre o que foi discutido. O argumento central dos advogados é que a acusação se baseia exclusivamente em delações premiadas sem provas materiais que sustentem as alegações.
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Mauro Cid e o plano 'Copa 2022'
Em sua delação premiada, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que a reunião na casa de Braga Netto foi um dos momentos de discussão sobre o plano "Copa 2022", que, segundo a PGR, teria como objetivo criar um ambiente de desestabilização da transição de governo. A defesa do general tenta desqualificar o depoimento de Cid, afirmando que ele teria sido pressionado pela Polícia Federal (PF) para confirmar uma "narrativa pré-definida". Contudo, os advogados não apresentam provas que desmintam os relatos do delator, o que pode reforçar a validade dos depoimentos no inquérito.
Outro ponto sensível é a acusação de que Braga Netto teria financiado parte do plano golpista, entregando R$ 100 mil em espécie dentro de uma sacola de vinho. A defesa nega essa transação e ironiza a ideia de que esse montante seria suficiente para um golpe de Estado. No entanto, os advogados não apresentam explicação alternativa sobre o suposto repasse financeiro, deixando uma lacuna na argumentação. Além disso, a PGR aponta que esse valor poderia ter sido utilizado para logística de mobilização de grupos apoiadores, e não necessariamente para a compra de armamentos ou infraestrutura militar.
Os investigadores também apontam que mensagens trocadas entre envolvidos sugerem um esforço para viabilizar a execução do plano. Trechos recuperados de dispositivos eletrônicos mostram conversas sobre logística e tentativa de obter apoio de militares da ativa. A defesa de Braga Netto, no entanto, não aborda esses pontos em detalhes, limitando-se a afirmar que a PGR não comprova o envolvimento do general nessas tratativas.
Reunião não negada e falta de narrativa alternativa
A estratégia da defesa evita refutar diretamente a existência da reunião de 12 de novembro, o que pode indicar que Braga Netto reconhece que o encontro aconteceu, mas busca reduzir sua importância no contexto da denúncia. Se a reunião fosse irrelevante, a defesa poderia ter simplesmente negado sua realização, mas optou por focar na desqualificação da acusação em vez de apresentar uma versão alternativa sobre os fatos.
Estratégia da defesa e seus riscos
A defesa de Braga Netto aposta na desqualificação das provas e na politização do caso, mas não apresenta elementos concretos que afastem o general das acusações. A ausência de uma negação contundente sobre a realização da reunião na casa do general, aliada à falta de uma narrativa alternativa sobre seu propósito, pode acabar fortalecendo a tese da PGR de que o encontro teve objetivos que vão além de uma simples confraternização entre militares.
A estratégia também se mostra arriscada ao questionar a credibilidade da delação de Mauro Cid sem apresentar contraprovas. Se a PGR conseguir demonstrar que o encontro foi um dos eixos da tentativa de golpe, a própria linha argumentativa da defesa pode ser usada contra Braga Netto no andamento do processo.
Além disso, o fato de a defesa se concentrar mais em desqualificar a PGR do que em apresentar um álibi forte para Braga Netto é um ponto de atenção. O tribunal deverá avaliar se as provas apresentadas são suficientes para sustentar a denúncia ou se os questionamentos da defesa podem comprometer o caso. De qualquer forma, a ausência de uma negação categórica da reunião segue como um ponto que pode pesar contra Braga Netto na tramitação do processo.