A articulação política e a coordenação administrativa do governo Lula estão fragilizadas. No centro do problema está a Casa Civil, pasta que tradicionalmente exerce um papel estratégico na condução do governo, mas que, sob a gestão de Rui Costa, tem sido alvo de críticas e conflitos internos. A insatisfação é crescente, não apenas entre ministros, mas também entre parlamentares e aliados históricos do presidente, que veem na falta de uma liderança forte na Casa Civil um dos principais entraves à governabilidade.
A ausência de um verdadeiro ministro da Casa Civil se reflete na desorganização da gestão e na fragilidade da relação do governo com o Congresso. Rui Costa acumulou poderes, centralizando decisões e dificultando a coordenação entre ministérios, mas sem exercer plenamente o papel político esperado do cargo. O resultado é um governo que opera sem um comando unificado, com ministros isolados e dificuldades na implementação de sua agenda. Essa situação se agrava em um contexto onde o Planalto precisa garantir a estabilidade política para enfrentar uma oposição fortalecida e um cenário econômico desafiador.
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O desconforto com a gestão de Rui Costa se intensificou após uma reunião na Granja do Torto, realizada há duas semanas e relatada pelo jornalista Thomas Traumann e confirmada pela coluna. No encontro, Walfrido Mares Guia, Jaques Wagner e José Múcio, todos ex-chefes da Secretaria de Relações Institucionais, apontaram o chefe da Casa Civil como um dos principais problemas do governo. A resposta de Lula foi uma defesa firme de Rui Costa, demonstrando que, por ora, não há intenção de substituí-lo. No entanto, o episódio reforçou a percepção de que a falta de um ministro capaz de articular a política e gerenciar crises está prejudicando o governo. A insistência do presidente em manter Rui Costa no cargo pode ser vista como um sinal de resistência a mudanças internas, mas também como um fator de risco caso a insatisfação dentro da base aliada continue a crescer.
O incômodo com a Casa Civil não se restringe ao núcleo do governo. Na Câmara dos Deputados, poucos petistas não torcem por um novo nome na pasta, embora reconheçam que as chances de mudança são mínimas. No Senado, o descontentamento também não é algo isolado. Um senador de uma importante sigla chegou a se referir a Rui Costa como "presidente da República do Acarajé", em alusão ao fato de que o ministro estaria mais dedicado às questões locais da Bahia do que ao jogo político nacional. Essa percepção de que a Casa Civil não atua de forma estratégica para todo o governo reforça as críticas à atual condução da pasta.
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O problema ficou ainda mais evidente com o episódio envolvendo o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. O titular da pasta afirmou que o governo discutia internamente um aumento no valor do Bolsa Família, o que pegou de surpresa tanto o Ministério da Fazenda quanto o próprio presidente Lula. A declaração gerou grande desconforto no Planalto e levou a Casa Civil a divulgar uma nota oficial desmentindo Dias, afirmando que "não existe estudo no governo sobre aumento do valor do benefício do Bolsa Família" e que o tema "não será discutido".
A situação gerou reações dentro do governo, com auxiliares presidenciais defendendo que Wellington Dias seja incluído na reforma ministerial prevista para as próximas semanas. A pasta do Desenvolvimento Social é alvo de cobiça pelo Centrão, e o episódio pode acelerar mudanças no primeiro escalão. A gestão da comunicação interna entre os ministérios também foi criticada, evidenciando mais uma vez a falta de coordenação e controle por parte da Casa Civil.
Esses problemas são reflexo de uma falha maior no governo: a dificuldade de centralizar e coordenar as ações ministeriais. Desde o início do mandato, um dos desafios tem sido a falta de controle sobre os ministros, que frequentemente fazem anúncios de forma independente, sem alinhamento prévio com o governo. Esse problema tem se repetido em diferentes áreas, causando ruídos de comunicação e gerando crises desnecessárias.
No Palácio do Planalto, é constante o comentário sobre a ausência de uma integração mais efetiva entre os ministérios. Há dificuldades para que o governo reaja com rapidez a crises ou problemas emergentes. Muitas vezes, leva dias ou até semanas para que os ministros consigam se reunir e discutir determinadas questões. Essa desarticulação compromete a capacidade de resposta do governo e permite que narrativas negativas ganhem força antes que o Planalto consiga reagir.
A crise na Casa Civil tem impactado diretamente a relação do Planalto com o Congresso, onde a articulação política agora está sob a responsabilidade de Gleisi Hoffmann. Parlamentares reclamam da falta de um canal eficiente de diálogo e da ausência de um planejamento estruturado para a tramitação de projetos essenciais. Essa falha política é agravada pela divisão interna no governo, com ministros disputando espaço e sem uma coordenação clara. A falta de um interlocutor forte no comando da Casa Civil faz com que os conflitos internos se tornem mais evidentes, dificultando a construção de consensos e prejudicando a agenda legislativa do governo.
Além da questão interna, a imagem pública do governo também sofre com essa falta de coordenação. A comunicação tem sido um ponto fraco, com dificuldades na apresentação das ações governamentais e na contenção de crises. O desgaste com medidas impopulares, como a taxação das compras internacionais e a crise do Pix, são exemplos de como a ausência de um comando estratégico na Casa Civil compromete a narrativa do governo. A falta de um discurso unificado e de respostas rápidas a polêmicas fortalece a oposição, que explora esses episódios para ampliar o desgaste da gestão.
O cenário se agrava à medida que aliados apontam para a necessidade de um "freio de arrumação" no governo. A falta de comunicação eficiente das ações do governo, o desgaste com medidas impopulares e a dificuldade em mobilizar sua base política indicam que há uma desarticulação na gestão federal. Sem uma Casa Civil operante, que unifique as ações do governo e organize sua estratégia política, o desgaste tende a se aprofundar. Isso se reflete na queda da popularidade de Lula, que já sente o impacto das dificuldades de articulação em sua base eleitoral tradicional, como o Nordeste e os setores mais pobres da população.
A falta de alinhamento e a lentidão na tomada de decisões não apenas afetam a governabilidade, mas também fragilizam a imagem do governo perante a população e o Congresso. Sem uma Casa Civil funcional, o Planalto continuará enfrentando dificuldades para consolidar sua agenda e evitar que a desarticulação interna amplie os desafios até 2026.