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Andréa Gonçalves: "Hoje Bolsonaro é um problema para a direita"

Ao Fórum Onze e Meia, comentarista política fala sobre julgamento de Bolsonaro e perda de aliados pelo ex-presidente

Jair Bolsonaro durante 1° dia de julgamento no STF.Créditos: Flickr/STF
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A youtuber e comentarista política Andréa Gonçalves esteve no Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (31) para comentar o julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana por tentativa de golpe. 

Na avaliação de Andréa, hoje, Bolsonaro não é mais um problema da esquerda, mas sim da direita. Ela afirma que o ex-presidente, através de seus discursos antidemocráticos, coloca a direita "contra a parede". "Ou a direita se coloca como democrata - pode ser neoliberal, pode ser o que for, mas democrata e que defende a democracia - ou eles vão ter que se colocar da banda do lado de Bolsonaro, que é o quê? Da extrema direita. Porque não tem para onde correr. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Então, Bolsonaro hoje é um problema para a direita e não para a esquerda", afirma Andréa. 

A comentarista ainda acrescenta que a esquerda deve ver esse cenário como uma oportunidade para aumentar seu engajamento tanto dentro quanto fora das redes. "A esquerda tem que ver tudo como oportunidade de engajar mais, de estar mais unida numa pauta e de pautar os movimentos populares nas ruas. E a direita é que está numa sinuca de bico. Ou ela se desvincula de Bolsonaro e mostra que é uma direita responsável democrata ou ela se coaduna totalmente com Bolsonaro e declara que é golpista, porque não tem outro jeito", avalia. 

Bolsonaro está "lascado" e aliados esperam "jogar última pá de cal"

Andréa afirma que, tanto criminalmente quanto politicamente, Bolsonaro "está lascado", uma vez que será condenado pelos seus crimes cometidos na trama golpista, e está perdendo apoio de seus aliados. A comentarista destaca que muitos políticos estão se aproximando do ex-presidente para "jogar a última pá de cal" e se apropriar de seu capital político.

"Na verdade, só querem pegar o capital político de Bolsonaro e se projetar em cima, já que Bolsonaro, na minha opinião, será responsabilizado criminalmente e vai para a cadeia. Aí tem os oportunistas que vão aparecer - notadamente na minha opinião, Tarcísio de Freitas - e vão tentar ocupar esse espaço de tiro porrada e bomba para ter o capital político de Bolsonaro, que não vai mais poder usar", analisa Andréa.

Já em relação à população, a comentarista aponta dois cenários diferentes: aqueles que não caem mais na "lorota" de Bolsonaro de que ele está sendo perseguido por uma "ditadura" e vítima do Judiciário brasileiro; e um núcleo de apoiadores que permanecerá sendo "enganado por conveniência, por interesses ou porque encontrou ressonância e representatividade a partir da extrema direita, do machismo, homofobia, racismo".

Andréa ainda afirma que Bolsonaro, durantes suas últimas entrevistas, "voltou a ser aquilo que ele é" ao insinuar que as eleições foram fraudadas e outros ataques. Para a comentarista, isso seria positivo. "Eu, sinceramente, quero Bolsonaro falante. Eu quero Bolsonaro sendo aquilo que ele é. Porque Bolsonaro não esconde o que ele é. Se ele começa a falar e se expor, ele volta tudo de novo com golpismo, com ataque ao Judiciário, com ataque ao TSE, com ataque às urnas eletrônicas e, consequentemente, com ataque à democracia. Cada um dá o que tem, o que o bolsonarismo tem para dar é golpe, é fascismo. E diante desse contexto, eu quero ele falando mesmo", afirma Andréa.

Por fim, ela avalia que "Bolsonaro está lascado de tudo quanto é jeito: politicamente, criminalmente e na questão popular também; a maioria das pessoas não são mais enganadas por Bolsonaro".

Como deve ser o julgamento de Bolsonaro e outros réus

Andréa também analisa como deve ser o julgamento de Bolsonaro e outros sete acusados por tentativa de golpe de Estado e mais quatro crimes cometidos na trama golpista. Ela afirma que como as provas são materiais, expostas em documentos, áudios e vídeos, não há como negar o crime. Por isso, a estratégia de defesa do ex-presidente será  "criar uma narrativa em cima das provas" que o tire do contexto do golpismo. Diante disso, o que ele vai fazer?

"É isso que Bolsonaro vai fazer. E dentro desse ambiente, ele vai tentar vender a ideia de que realizou apenas atos preparatórios. Realizou os atos preparatórios, mas não iniciou a execução do crime. Porque se ele realizar só atos preparatórios, não é crime. Não tem crime nisso", diz Andréa.

"Então, ele vai tentar vender essa ideia, que ele ficou só no campo das tratativas, só preparatórios, que ele não partiu para a execução. Porque negar não tem como negar, as provas são robustas", acrescenta.

Andréa, porém, afirma que para que essa tese de defesa de Bolsonaro tenha "o mínimo de executoriedade", ele vai precisar culpabilizar os outros acusados. "Se eu não fiz, quem fez? Na minha opinião é onde o bicho vai pegar", destaca Andréa.

Ela diz que quando a etapa da defesa de mérito começar, não haverá outra possibilidade a não ser colocar a culpa no outro, uma vez que as provas mostram os fatos. Então, ele [Bolsonaro] vai tentar tirar o dele da reta. E para ele tirar o dele da reta, ele vai ter que colocar alguém. E quando os outros perceberem que a defesa de Bolsonaro é colocar a culpa no outro, esse outro vai se levantar", diz Andréa.

Ela ainda cita que, em sua opinião, os acusados que estão mais implicados são o general Braga Netto e o general Mário Fernandes. "É onde eu acredito que Bolsonaro vai tentar jogar a culpa para tirar o dele da reta, porque a gente sabe que Bolsonaro tem uma conduta covarde", diz Andréa. "Para ele tentar se safar, ele pode fazer tudo, inclusive colocar a culpa nos generais", aponta.

Bolsonaro coloca a culpa em Carla Zambelli por ela ser mulher

Andréa também aborda o julgamento da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) julgada pelo STF por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo após perseguir um jornalista. 

Além disso, a deputada perdeu o apoio de Bolsonaro nos últimos dias, que colocou a culpa de ter perdido a eleição em Zambelli. Andréa destaca, porém, que o ex-presidente não culpou a deputada porque realmente se incomodou com o episódio de violência protagonizado por ela, mas sim porque ela é mulher.

"Essa extrema direita é tão sem vergonha. Colocaram a culpa na Carla Zambelli só porque ela é mulher", diz Andrea. Ela destaca que, na época do episódio, a extrema direita ficou num "alvoroço de felicidade" com a perseguição ao jornalista Luan Araújo. 

"Bolsonaro não perdeu a eleição por causa de Carla Zambelli, não. Bolsonaro colocou a culpa na Zambelli porque a Zambelli é mulher. Porque aquilo ali [perseguição], a extrema direita bateu palma. Aquilo lá foi apoteótico para a extrema direita. Só que eles precisavam culpabilizar alguém pela derrota de Bolsonaro. Nada melhor do que uma mulher: Zambelli", afirma Andréa.

Confira a entrevista completa de Andréa Gonçalves ao Fórum Onze e Meia

Siga o perfil da Revista Fórum e da jornalista Júlia Motta no Bluesky.

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