BASTIDORES

Bolsonaro tenta puxar Kassab para a anistia, mas PSD desconversa

Ex-presidente declarou que tem o apoio do líder do PSD para aprovar projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mas aliados de Kassab e parlamentares do partido demonstram surpresa e evitam confirmar articulação

Créditos: Facebook Gilberto Kassab e Jair Bolsonaro
Escrito en POLÍTICA el

Durante manifestação realizada em Copacabana neste domingo (16), o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, estaria alinhado com a aprovação do projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo Bolsonaro, antigos desentendimentos com Kassab foram resolvidos e, com isso, o PSD estaria comprometido com a pauta no Congresso Nacional.

No entanto, a declaração do ex-presidente causou surpresa dentro do próprio PSD. A coluna entrou em contato com assessores próximos a Kassab e com sua assessoria oficial, mas ninguém confirmou ou negou a afirmação de Bolsonaro. Fontes no entorno do líder do PSD disseram que a questão precisaria ser melhor avaliada e que, até o momento, não havia informação concreta sobre o assunto. Nem mesmo os assessores mais próximos do presidente e fundador do PSD conseguiram confirmar essa versão.

A coluna também conversou com parlamentares do PSD, tanto da Câmara como do Senado, que tampouco conseguiram garantir que há uma movimentação expressiva da legenda em prol da anistia. Algumas dessas fontes, inclusive, demonstraram surpresa com a declaração de Bolsonaro, reforçando que não haviam definições sobre esse tema dentro do partido, o que reforça a dúvida sobre o real grau de engajamento de Kassab e sua legenda na pauta defendida pelo ex-presidente.

Bolsonaro tenta puxar Kassab para a anistia, mas PSD desconversa do PSD, tanto da Câmara como do Senado, que tampouco conseguiram garantir que há uma movimentação expressiva da legenda em prol da anistia. Algumas dessas fontes, inclusive, demonstraram surpresa com a declaração de Bolsonaro, reforçando que não haviam definições sobre esse tema dentro do partido. Essa reação reforça a dúvida sobre o real grau de engajamento de Kassab e sua legenda na pauta defendida pelo ex-presidente.

Mesmo sem um apoio consolidado do PSD, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, anunciou que solicitará urgência na tramitação do projeto, buscando pautá-lo ainda nesta semana. Ele afirmou que já conta com assinaturas de membros do PL e de outros partidos para viabilizar o pedido. A expectativa do grupo bolsonarista é acelerar a tramitação para garantir que a proposta chegue ao plenário antes que eventuais resistências se consolidem.

A manifestação no Rio de Janeiro também contou com discursos de Bolsonaro e aliados em defesa da anistia e com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro voltou a atacar a Corte e afirmou que seguirá sendo um "problema" para o governo e o Judiciário, esteja "preso ou morto". A frase, dita diante de uma plateia de apoiadores, foi interpretada como uma tentativa de reforçar a narrativa de perseguição política, estratégia recorrente do ex-presidente desde que deixou o cargo.

A proposta de anistia tem sido um tema sensível no cenário político e revela divergências dentro do próprio PSD. A declaração de Bolsonaro pode ser interpretada como um gesto para pressionar Kassab e sua bancada a assumirem um posicionamento mais claro sobre o tema. Ainda que o ex-presidente tente demonstrar otimismo, a falta de confirmação da própria legenda coloca em dúvida até que ponto o PSD estará disposto a comprar essa briga no Congresso.

Além disso, parlamentares da oposição e membros de outros partidos do chamado centrão avaliam que o tema da anistia pode se tornar um elemento de desgaste para Kassab. Como secretário do governo de São Paulo e um dos principais articuladores políticos do país, Kassab tem buscado manter uma postura de moderação. O apoio explícito a um projeto que visa beneficiar bolsonaristas envolvidos nos atos de 8 de janeiro pode ter repercussões negativas para suas ambições políticas futuras e para a relação do PSD com o governo federal.

Enquanto isso, a base bolsonarista segue mobilizada para tentar aprovar a medida. O ato em Copacabana foi apenas uma das ações planejadas pelo grupo de Bolsonaro para manter a pressão sobre o Congresso. Com a proposta de urgência apresentada por Sóstenes Cavalcante, os próximos dias devem ser decisivos para definir se o PSD de Kassab realmente se alinhará à pauta da anistia ou se tentará manter distância do tema. O que está claro, até o momento, é que a movimentação de Bolsonaro pegou até seus aliados de surpresa e que, ao menos por enquanto, a anistia segue como uma promessa sem garantias concretas.

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