Sucessor de Arthur Lira (PP-AL) na Presidência da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) rasgou a pele de cordeiro e alfinetou Lula, comparando-o a Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao jornal O Globo nesta sexta-feira (7).
O deputado paraibano, que há seis dias obteve 444 votos para presidir a casa legislativa ao costurar um leque de apoios que foi do PL ao PT, também confirmou que o ex-presidente pediu para que ele pautasse a anistia para os golpistas do 8 de janeiro, incluindo ele próprio, e reafirmou que acha que a pena de inelegibilidade por 8 anos "é uma eternidade".
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Sobre o PL da Anistia, Motta afirmou que é uma pauta que "cria tensão com o STF e Executivo", mas realçou que "enfrentará o tema", que fez parte da negociata com Bolsonaro para angariar os mais de 90 votos da bancada controlada pelo ex-presidente.
"Na conversa que eu tive com o presidente Bolsonaro, em um determinado momento, ele falou: “Eu queria que, se houver o acordo no colégio de líderes e se houver o ambiente na Casa, você não prejudique a pauta da anistia”. Na reunião com o PT, falaram: “Olha, essa pauta da anistia não pode andar. É uma pauta ruim e é uma pauta que nós não concordamos”. A nossa eleição foi construída do ponto de vista de uma convergência. Vamos sentindo o ambiente na Casa para que, a partir daí, se decida", disse Motta ao jornal da família Marinho, se referindo a Bolsonaro como "presidente" por mais de uma vez.
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Em seguida, Motta voltou a citar Bolsonaro ao atacar a pena de 8 anos de inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baseada na Lei da Ficha Limpa. PL do deputado Bibo Nunes (PL-RS) tenta mudar a lei para que o ex-presidente possa concorrer já em 2026.
"Se essa matéria for trazida, por exemplo, pelo PL, do presidente Jair Bolsonaro, vamos levar ao colégio de líderes. Agora, com eleição de dois em dois anos, não reconhecer que oito anos de inelegibilidade é muito tempo é não reconhecer a realidade democrática do país. Quatro eleições é uma eternidade", disse Motta, defendendo a mudança - e a possibilidade de abrandar a pena de Bolsonaro.
Em seguida, Motta passou a alfinetar Lula, especialmente na pauta econômica. O novo presidente da Câmara criticou o governo ao dizer que falta "responsabilidade com os gastos públicos", segundo ele "uma pauta que o governo tem dificuldade em avançar".
Motta ainda sinalizou que deve criar dificuldades para colocar em pauta a isenção do isenção do imposto de renda a quem ganha até R$ 5 mil e desferiu um novo ataque ao governo usando o "cenário de alta dos alimentos" e sinalizando que Lula faz um "discurso populista, eleitoreiro", em um jargão comum na mídia neoliberal para atacar mandatários progressistas.
"Quem não quer aprovar isenção para a grande maioria da população? É pauta fácil de ser votada. Mas qual será a consequência? Vai trazer mais estabilidade fiscal? As pessoas estão recebendo o salário mínimo, mas não conseguem encher o prato em casa. Temos um cenário de alta de alimentos, com moeda fraca, poder de compra da população sendo corroído. Temos de encarar de maneira responsável e não estar atrás de discurso populista, eleitoreiro. Já vimos esse filme antes e ele não acaba bem".
Motta ainda alfinetou Lula pelas críticas à política econômica - focadas especialmente na alta da taxa Selic - dizendo que "isso não tem ajudado na condução da economia. E, por fim, comparou o presidente com Jair Bolsonaro (PL).
"Não podemos, em um país complexo como o Brasil, ficar refém de posicionamentos ideológicos. Quem mais precisa quer resultado. O governo precisa entender isso. Não adianta Lula fazer o que Bolsonaro fez e ficar o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar. Não tem governo que traga crescimento sem discutir responsabilidade com as contas públicas", finalizou.