ESCÂNDALO

Gonet participa de convescote com bolsonaristas e advogado de Garnier, ex-comandante da Marinha indiciado por golpe

Estiveram presentes ainda no almoço com o PGR o deputado Ricardo Salles e Ives Gandra Filho, ministro do TST cujo pai sustentava tese utilizada por Bolsonaro para justificar golpe

Paulo Gonet em convescote com bolsonaristas e advogado de investigado na trama golpista.Créditos: Arquivo Pessoal
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Enquanto cresce a expectativa pela denúncia a ser apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os indiciados pela trama golpista, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, um convescote com a presença de Paulo Gonet realizado nesta quinta-feira (5) já vem sendo tratado como um escândalo.

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O PGR participou de um almoço em Brasília com bolsonaristas, incluindo o deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP), o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra Martins Filho e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. Para muito além dos questionamentos que se levantam sobre a ética de Gonet em tal encontro, um fato ainda mais grave chama atenção: o evento ocorreu no escritório do ex-senador Demóstenes Torres, atualmente advogado do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha indiciado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado no país. 

Segundo as investigações e depoimentos coletados pela PF, Almir Garnier teria colocado "tanques prontos" para um eventual levante golpista. 

"Pode ficar tranquilo que não houve qualquer conspiração", afirmou Demóstenes Torres ao jornal Folha de S. Paulo em tom jocoso. Marco Aurélio Mello, por sua vez, disse que a conversa no almoço girou em torno de "amenidades" e que o evento foi uma homenagem ao professor de direito Ibsen Noronha, da Universidade de Coimbra. Já Ives Gandra Filho, também presente na reunião, fez questão de ressaltar que Gonet "não ficou para a sobremesa".

O sobrenome Gandra, aliás, também torna o encontro suspeito. O pai de Ives Gandra Filho, o jurista Ives Gandra Martins, teve suas interpretações do artigo 142 da Constituição amplamente utilizadas por Bolsonaro e seus aliados para tentar justificar uma intervenção militar nas eleições de 2022, na tentativa de dar um ar de legalidade a um golpe. A tese, que alegava um suposto papel moderador das Forças Armadas, foi rejeitada pelo STF em 2024, mas alimentou a retórica golpista durante o governo Bolsonaro.

Paulo Gonet, até o momento, não se pronunciou sobre sua presença no encontro. 

"Tem que se julgar impedido"

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (6), o advogado Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP e considerado um dos maiores juristas do país, classificou o almoço com a participação de Paulo Gonet, bolsonaristas e advogado de militar indiciado no inquérito da PF como "imoral". 

Segundo Serrano, Gonet deveria se julgar impedido de analisar casos que envolvam as pessoas presentes no encontro, como é o caso da trama golpista, que tem entre os investigados Almir Garnier, cliente do advogado que ofereceu o almoço. 

"No mínimo, o Gonet tem que se declarar impedido em todos esses casos. O que é isso, gente? Você vai lá, confraterniza, vai no escritório de um advogado? Um procurador-geral? Isso é inadequado", declarou. 

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