BOMBA

Áudios explosivos comprovam que Bolsonaro liderou tentativa de golpe; ouça

Gravações que mostram os bastidores da trama golpista foram extraídas de 1,2 mil equipamentos eletrônicos de militares e civis apreendidos pela Polícia Federal

O ex-presidente Jair Bolsonaro.Créditos: Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

Gravações até então inéditas obtidas Polícia Federal (PF) revelam os bastidores da tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro que envolveu membros do alto escalão de seu governo, militares e civis. Os áudios podem ser ouvidos ao final desta matéria. 

Este material – extraído de 1,2 mil dispositivos eletrônicos apreendidos – somam mais de 255 milhões de mensagens de áudio e vídeo, e foram analisadas em 1.214 laudos que apontam para a articulação de um plano que visava implementar um ditadura no Brasil, mantendo Bolsonaro no poder após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições à presidência em 2022. 

Divulgados pelo programa "Fantástico", da TV Globo, na noite deste domingo (23), os áudios registram conversas que detalham o envolvimento de integrantes do alto escalão militar e de setores próximos a Bolsonaro na trama golpista. Em uma dessas gravações, o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então lotado no COTER – Comando de Operações Terrestres do Exército –, declara

“A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente". 

As conversas revelam também que, quando os militares se viam limitados em suas atribuições, buscavam contornar obstáculos através do acionamento direto de Bolsonaro. Em um áudio, Almeida orienta os manifestantes acampados a se deslocarem para outro foco de protesto.

“Eu acho que o pessoal poderá fazer essa descida. E ir atravancando mesmo. Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais”.

E completa:

“Não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir para o Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum poder". 

Outro conjunto de mensagens evidencia tentativas de intervenção para proteger os acampados e manter a estratégia golpista, utilizando-os como massa de manobra. O general Mario Fernandes, atualmente preso, teria solicitado a colaboração de militares próximos ao ex-presidente. Em sua gravação, ele diz:

“Parece que existe um mandado do TSE ou do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá. Já andou havendo prisão realizada ali, pela Polícia Federal. Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF. Eu estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG”. 

E reforça: 

“Se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson. Segurar a PF, para esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército, para a gente segurar, proteger esses caras ali". 

Em um dos áudios enviado a um militar, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que firmou acordo de delação premiada com a PF, confirma que o ex-presidente editou a minuta de um decreto que instauraria um golpe de Estado no Brasil. 

“Ele entende as consequência do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?". 

Outras gravações mostram a pressão para que os comandantes das Forças Armadas aderissem ao golpe. Em uma das mensagens, um interlocutor não identificado dirigiu-se a Almeida da seguinte maneira: 

“O povo tá nas ruas, pedindo pra que haja uma outra eleição, de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara. Só quem tem quatro estrelas no ombro não tá vendo isso?”.

Pouco depois, outra voz questiona:

“Tá com medo de ficar pra história, de dizer que fomentou um golpe? É a hora da gente, cara”.

Ainda no mesmo contexto, o coronel George Hobert Oliveira Lisboa – então assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência – destacou as divisões internas no alto comando:

“Agora tá ficando muito claro que o Alto Comando do Exército tá se fechando em copas, talvez com uma maioria contra a decisão do presidente. Mas pensando em primeiro lugar na instituição, no próprio Exército, quando deveria estar pensando em primeiro lugar no Brasil. Eu sei o quanto o senhor está comprometido com essas ações, o risco que todos nós estamos correndo participando dessa frente.”

O tenente-coronel Sérgio Cavaliere, por sua vez, afirmou em outra gravação obtida pela PF: 

“Acabei de falar com o Cid, cara. Ele falou que não vai ter nada. Tá pronto, só que ele não vai assinar porque o Alto Comando está rachado e não quer encampar a ideia. Então, é isso aí, tio. Deu ruim, tá? Acabei de falar com o nosso amigo lá, ele falou que não vai rolar nada. O Alto Comando não vai topar. A Marinha topa, mas só se tiver outra Força com ela, porque ela não aguenta a porrada que vai tomar sozinha”. 

Já o coronel Bernardo Corrêa Netto revelou em um áudio que Bolsonaro estava com medo de ser preso: 

“Presidente só faria (o decreto do golpe) se tivesse apoio das Forças Armadas, porque ele tá com medo de ser preso. Falei com ele agora de manhã". 

Ouça os áudios na reportagem abaixo: 

Bolsonaro denunciado 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 18 de fevereiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de formação de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado, por sua participação nos fatos ocorridos entre o final de seu mandato, em dezembro 2022, e o fatídico 8 de janeiro de 2023.

Após uma grande apreensão e ansiedade por grande parte dos brasileiros, o PGR Paulo Gonet apresentou a denúncia ao STF, quase três meses após o antigo ocupante do Palácio do Planalto e outros 39 investigados serem indiciados num minucioso inquérito da Polícia Federal composto por 884 páginas e repleto de provas colhidas pelas agentes.

Também foram denunciados Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos, Anderson Gustavo Torres, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Mauro César Barbosa Cid, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Walter Souza Braga Netto, entre outros. 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar