BASTIDORES

Especulações sobre isolamento de Lula geram inquietação na base do governo: "está lembrando a Dilma"

Falta de articulação política e influência excessiva de Rui Costa preocupam parlamentares

Créditos: Reprodução de vídeo
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem enfrentado críticas crescentes dentro de sua própria base aliada, que aponta um isolamento cada vez maior e dificuldades na interlocução com o Congresso. Parlamentares reclamam que Lula tem recebido poucos deputados e senadores para reuniões, o que estaria travando a tramitação de projetos e prejudicando a governabilidade. O distanciamento do presidente tem gerado apreensão sobre a capacidade do governo de consolidar sua base no Legislativo, afetando até mesmo a tramitação de pautas consideradas prioritárias.

Rui Costa no centro das críticas

As queixas são direcionadas, principalmente, à forte influência do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Segundo congressistas consultados pela coluna, Rui Costa atua como um filtro rígido entre o presidente e o Parlamento, fazendo com que muitas demandas se percam antes de chegarem a Lula. A situação tem gerado incômodo dentro do Congresso, pois diversos parlamentares se queixam da dificuldade de acesso ao Planalto e da falta de retorno sobre demandas apresentadas.

"A palavra de alguns deputados se perde nessa espécie de curva de rio, onde as coisas acabam por parar nele", disse um parlamentar.

Outros afirmam que a centralização excessiva das decisões na Casa Civil dificulta a resolução de problemas políticos diários, tornando o governo vulnerável a crises evitáveis. Além disso, há receio de que essa forma de condução política leve a um acúmulo de insatisfação dentro da base governista, criando dificuldades futuras para Lula na aprovação de matérias fundamentais para seu governo.

A percepção é de que Rui Costa, ao invés de facilitar as negociações políticas, acaba funcionando como um obstáculo entre o governo e o Congresso. Essa reclamação tem sido compartilhada não apenas por partidos da base aliada, mas também por setores do próprio PT, que defendem uma reestruturação da interlocução política para evitar maiores desgastes.

Carta de Kakay intensifica críticas ao governo

A divulgação de uma carta aberta pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, nesta segunda-feira (17), acirrou ainda mais o clima entre aliados do presidente. No documento, Kakay, que historicamente esteve próximo ao PT, afirmou que Lula está "isolado" e "capturado", destacando uma mudança significativa em relação aos seus mandatos anteriores.

O impacto da carta foi imediato no meio político. Parlamentares relataram que as críticas feitas sob reserva por aliados passaram a circular com mais força, ganhando espaço nas discussões internas. Para alguns, a avaliação de Kakay reflete uma insatisfação latente dentro da base governista, que já vinha se queixando da falta de diálogo do presidente com o Congresso.

"Ele verbalizou aquilo que muitos já vinham falando nos bastidores", disse um congressista.

Na carta, Kakay enfatiza que o governo tem dificuldades em lidar com os parlamentares e que a articulação política se tornou ineficaz, algo que já vinha sendo apontado por lideranças partidárias. Para ele, a ausência de uma comunicação fluida entre o Executivo e o Legislativo compromete a governabilidade e pode dificultar até mesmo a reeleição de Lula em 2026.

Semelhanças com o governo Dilma

A falta de diálogo com o Congresso tem levado aliados a compararem o cenário atual ao desgaste vivido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Um senador petista afirmou à coluna que, durante o governo Dilma, presenciou um isolamento semelhante, que acabou comprometendo a relação do Executivo com o Legislativo. O temor é que o mesmo processo se repita com Lula, resultando em dificuldades crescentes para aprovar pautas essenciais e em um cenário de instabilidade política.

"Hoje, vejo um cenário muito parecido com o da ex-presidente Dilma. O isolamento, a falta de diálogo... tudo lembra muito o início da crise que culminou no afastamento dela", relatou o senador.

O desgaste na relação entre Executivo e Legislativo é algo que já se reflete nas votações do Congresso, onde o governo enfrenta cada vez mais resistência para aprovar projetos prioritários. A falta de articulação política tem sido apontada como um dos principais motivos para esse cenário. Aliados alertam que, se Lula não ampliar o diálogo e estreitar os laços com parlamentares, a governabilidade pode ser comprometida.

Apesar das críticas, os parlamentares consultados pela coluna foram unânimes em afirmar que não há qualquer possibilidade real ou viável de um processo de impeachment contra Lula. A avaliação predominante é que, embora haja dificuldades na articulação política, o cenário não configura uma crise institucional grave o suficiente para resultar em um afastamento do presidente. Mesmo entre os mais insatisfeitos, a percepção é de que o governo ainda possui margem para ajustes e que o maior desafio é melhorar a interlocução com o Congresso antes que o desgaste político se torne irreversível.

Parlamentares exigem mudanças

Nos bastidores, cresce a pressão por mudanças na estratégia de articulação política do governo. Deputados e senadores cobram mais acesso direto ao presidente e defendem uma reformulação na equipe responsável pela interlocução com o Congresso. A avaliação é de que, sem ajustes, a insatisfação interna pode se transformar em dificuldades reais para Lula no Parlamento. Líderes da base alertam que é essencial fortalecer os canais de comunicação com deputados e senadores para evitar uma crise maior.

A insatisfação não se limita apenas à relação do Executivo com o Congresso. Representantes de setores estratégicos do governo também têm demonstrado preocupação com a forma como as negociações políticas estão sendo conduzidas. Alguns ministros tentam mediar a situação, mas encontram resistência por parte da Casa Civil, que mantém a centralização das articulações sob o comando de Rui Costa.

Diante do cenário atual, parlamentares alertam que, se o governo não abrir mais canais de diálogo e flexibilizar sua articulação política, poderá enfrentar turbulências cada vez maiores. A pressão por mudanças deve se intensificar nas próximas semanas, com congressistas buscando alternativas para garantir maior participação nas decisões do governo e evitar uma crise política mais profunda.

O desgaste na relação com parlamentares já se reflete na falta de consenso sobre pautas importantes e na crescente dificuldade para aprovar medidas prioritárias. Se o Planalto não responder a essas queixas com mudanças concretas, o risco de um isolamento ainda maior pode comprometer não apenas a governabilidade, mas também os planos eleitorais do presidente para 2026.

 

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