A cantora Anitta rebateu o vereador bolsonarista Guilherme Kilter (Novo), que tentou impedir a realização de seu show em Curitiba (PR), no último sábado (15). Durante uma coletiva de imprensa antes da apresentação, a artista ironizou a tentativa do parlamentar, afirmando que gastar tempo com esse tipo de assunto é desperdiçar o voto dos cidadãos.
Kilter apresentou uma proposta na Câmara Municipal de Curitiba para barrar o show da cantora, alegando que Anitta "subverte os valores da sociedade" e que suas músicas estariam em desacordo com os princípios da chamada "família tradicional brasileira".
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Ao tomar conhecimento da tentativa de censura, Anitta respondeu:
"Só acho que, na política, há muitas coisas sérias a serem resolvidas, muitos problemas importantes para cuidar. Perder tempo com uma coisa dessas é jogar o voto do cidadão no lixo, né? Em vez de se preocupar com algo que a população realmente precisa, fica aí se preocupando com uma bobagem dessas. Ninguém é obrigado a reconhecer nada meu, mas, na política, é importante usar bem o tempo de trabalho."
A cantora já havia comentado o assunto nas redes sociais, debochando da iniciativa do vereador:
"Tanto problema sério, e o cara perdendo tempo com isso. Obrigado, querido."
Apesar da tentativa de censura, o show de Anitta aconteceu sem qualquer impedimento e com grande público.
Quem é Guilherme Kilter e sua cruzada contra a cultura popular?
O vereador Guilherme Kilter, que tentou barrar o show de Anitta, é membro do Partido Novo e tem um histórico de posicionamentos conservadores contra manifestações culturais populares, como o funk e o rap.
Ele faz parte de uma nova geração de políticos da extrema direita, formados por iniciativas como o RenovaBR, que se apresenta como uma escola de formação política, e compartilha valores semelhantes aos do MBL (Movimento Brasil Livre).
Embora RenovaBR e MBL não sejam formalmente ligados, ambos compartilham diversos pontos: aversão patológica à esquerda;
filiação a partidos da “direita limpinha”, como NOVO, PSDB e União Brasil, postura moralista e conservadora nos costumes, tentativas recorrentes de censurar o funk e o rap como manifestações culturais, defesa da família tradicional e da moralidade nos costumes e oposição ao uso de recursos públicos em eventos culturais progressistas.
Kilter não está sozinho nessa cruzada. Sua campanha para censurar Anitta se assemelha à da vereadora Amanda Vettorazzo (MBL), eleita pelo União Brasil em São Paulo. Amanda também se tornou conhecida por sua perseguição ao funk e ao rap, afirmando que algumas músicas fazem apologia ao crime e ao uso de drogas.
Em janeiro deste ano, Amanda apresentou um projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo para proibir a contratação, com dinheiro público, de artistas cujas letras exaltam atividades criminosas.
Embora o texto do projeto não mencione especificamente gêneros musicais, a parlamentar declarou que a iniciativa foi motivada, em parte, pelas composições do rapper Oruam, filho do traficante Marcinho VP.
Após o anúncio do projeto, Amanda relatou ter recebido ameaças de morte nas redes sociais, atribuídas a fãs do artista. A proposta gerou debates intensos sobre liberdade de expressão e o papel do poder público no financiamento de manifestações culturais.
A ofensiva contra o funk e o rap não ficou restrita a Curitiba e São Paulo. Inspirada nessas iniciativas, a censura musical já chegou a outras capitais brasileiras e ao Congresso Nacional, onde parlamentares apresentaram projetos similares.
Jovens por fora, conservadores encarquilhados por dentro
Como comentou a jornalista Cynara Menezes no programa Brocou na internet, na TV Fórum, esses jovens políticos são "jovens por fora e velhos encarquilhados por dentro". Eles são a cara da hipocrisia: dizem ser defensores da liberdade de expressão, mas censuram artistas e manifestações culturais populares sempre que podem.
No fim das contas, enquanto Anitta lota shows e movimenta a economia, Kilter e seus aliados do RenovaBR e do MBL seguem tentando censurar a cultura, gastando tempo e dinheiro público em batalhas ideológicas que pouco acrescentam à vida da população.
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