O ato bolsonarista programado para este sábado (7), na Avenida Paulista, vai trazer mais ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas também deve ter como alvo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), justamente pelo fato de descartar a discussão sobre um eventual impeachment do magistrado.
A hostilidade em relação a Moraes não é um roteiro novo e tem estado presente em outras manifestações do segmento extremista. Teve seu auge quando, ainda no cargo de presidente, Bolsonaro xingou o ministro de "canalha" e disse que não iria mais cumprir determinações judiciais vindas dele. O ano era 2021 e foi necessária a intervenção do ex-presidente Michel Temer, que escreveu uma carta assinada pelo então presidente para encerrar uma crise entre os três Poderes.
Embora tenha moderado o tom desde então, até porque Bolsonaro deve se tornar réu em ações penais no STF em breve, nesta sexta-feira (6) ele voltou a ser mais agressivo. Em Juiz de Fora (MG), local onde recebeu a facada em 2018, hostilizou o magistrado.
"Aquele ministro do STF não dá mais. Ele não tem sensibilidade, não tem noção, age como um obcecado para perseguir a minha pessoa... [A matéria da Folha de S. Paulo mostraria] como os inquéritos malditos são feitos. Com áudios vazados. Onde um ditador diz: ‘Quero pegar o filho do Bolsonaro’. Não pode me pegar, vai na família, vai no filho, vai na esposa, vai nos amigos do lado. Isso é coisa de insanidade, de quem não quer o futuro melhor do seu país. Brevemente ele vai sair de lá... Vamos desafiar o sistema que eu comecei a abrir suas vísceras exatamente há seis anos", disse.
Últimas manifestações
Em fevereiro deste ano, os bolsonaristas foram à Avenida Paulista. Um grupo da USP calculou em 185 mil os presentes no ato, um público não desprezível, mas menor do que em outras manifestações.
Na ocasião, ficou evidente a busca por uma anistia, com a tese de que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro, a despeito de todas as evidências em contrário, além da apuração feita pelas autoridades policiais. "O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados. É, por parte do parlamento brasileiro, uma anistia para os pobres coitados que estão presos em Brasília", disse Bolsonaro.
Sem poder atacar Moraes e o STF, o ex-presidente terceirizou a função para o dono da festa, o pastor Silas Malafaia, responsável pelo aluguel dos trios elétricos e organizador do evento. Disse que o ministro teria “sangue nas mãos” em função da morte de um dos presos pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro que estava na Penitenciária da Papuda, pontuando que o magistrado “vai dar conta a Deus” pelo episódio.
Em abril, chegou a ser realizada outra manifestação, no Rio de Janeiro, reunindo 32.750 pessoas, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, bem aquém da pretensão de levar um milhão à Praia de Copacabana.
E neste 7 de Setembro?
Para este sábado, Malafaia deve fazer um discurso ainda mais agressivo contra Moraes. "A força da fala vai ser o impeachment de Alexandre de Moraes", prometeu. A ideia é pressionar senadores para um pedido de impeachment do ministro programado para ser apresentado na segunda-feira (9),
Dois trios elétricos estarão na Paulista e a expectativa é que 60 deputados e 12 senadores marquem presença no ato. Com a suspensão do X, ex-Twitter, no Brasil e os ataques feitos por Elon Musk, os bolsonaristas pretendem, oficialmente, dar uma demonstração de força que ajudaria a criar as condições políticas para que Pacheco analise o processo de impedimento.
Ainda que a mobilização concentre uma grande multidão, é improvável que o presidente do Senado dê sequência ao pedido. Assim, o ato tem mais a intenção de mobilizar a base extremista, inclusive para auxiliar no processo eleitoral e manter a chama acesa à espera de um cenário que poderia livrar Bolsonaro de futuras responsabilidades no âmbito penal. Por enquanto, este quadro não existe. Mas não se pode negar que o bolsonarismo é resiliente.