Na última quarta-feira (3) um grupo de evangélicos, cansados do uso da religião para a propagação da cultura do ódio e da intolerância, lançou um movimento pelo Estado de Direito em Campo Grande (MS), para marcar posição em favor de pautas humanitárias, dignas e, principalmente, denunciar o abuso religioso na apropriação dos espaços de fé para a disseminação de uma ideologia que propaga discriminação e desinformação.
O movimento iniciado na capital sul-mato-grossense se junta, então, à Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que surgiu em 2016 para denunciar o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Desde então, a Frente tem se posicionado a favor da democracia e contra as barbáries da extrema direita e, principalmente, pela defesa incontestável dos governos do campo democrático e popular.
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A Fórum conversou com uma das líderes desse movimento em Campo Grande, a advogada Giselle Marques, ex-candidata ao governo do estado e pré-candidata a vereadora pelo PT. Segundo Giselle, a ação “reuniu pessoas que estavam se afastando do Evangelho de Cristo devido ao uso do púlpito para a disseminação de valores que nada têm a ver com a fé cristã, como é o caso da discriminação racial, social e de gênero” e contou com vários depoimentos emocionados de pessoas que experimentaram algum tipo de perseguição e até mesmo chegaram a ser expulsas de igrejas por não abraçarem a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com a advogada e pré-candidata a vereadora, a ideia da criação da Frente em Campo Grande foi compartilhada pela professora universitária Sandra de Souza e, após reflexões e conversas, tiveram o apoio de muitas outras lideranças, como a do pastor Emílio Paulo Filho, indígena da etnia Terena, que fez a oração de abertura do evento. A participação de um pastor representando uma população tão discriminada, assim como a chegada do pastor Edil Queiroz, representando a negritude evangélica, traz ao movimento força e representatividade para trazer outras lideranças evangélicas para a Frente.
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Perguntada sobre a importância de um movimento como a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito numa cidade conhecida como bolsonarista, Giselle foi assertiva.
“Chega a ser assustadora a cegueira de alguns em relação à conjuntura na qual vivemos. Há poucos dias circulou um vídeo onde um líder local da extrema direita, sentado em um clube de tiros, com uma cerveja na mesa, lançou-se pré-candidato à prefeitura de Campo Grande. No vídeo é possível ouvir os disparos de tiros ao fundo, e a bandeira verde amarela, que infelizmente foi indevidamente apropriada por esta parcela da população. Ele afirma que “corta as bolas” dele, mas não apoia um determinado partido. A imagem do sexismo, da dominação, da violência, personificada em um vídeo que deveria causar repulsa em toda pessoa de bem, especialmente os cristãos e as mulheres, secularmente oprimidas por esse tipo de comportamento machista e deplorável. Acreditamos que o nosso movimento pode contribuir para a reflexão e a mudança dessa triste realidade, esclarecendo o povo de Deus quanto ao mau uso da nossa fé por uma minoria sanguinária e violenta, com atitudes que afrontam o Evangelho de Cristo", afirmou.
A Frente se reunirá uma vez por mês e já planeja um evento ainda maior com a participação de lideranças nacionais, num grande passo na luta para estancar o avanço da extrema direita no estado.