INDICIAMENTO

Wajngarten apenas se defende e não nega participação de Bolsonaro no esquema das joias

Advogado do ex-presidente se limitou a dizer, em nota, que nunca participou de "qualquer negociação"

Fabio Wajngarten e Jair Bolsonaro.Créditos: Pedro Ladeira/Folhapress
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Fabio Wajngarten, advogado de Jair Bolsonaro que também foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito das joias, divulgou nota sobre o caso na noite desta quinta-feira (4). 

Ao se pronunciar, Wajngarten apenas tentou se defender, afirmando que não participou de qualquer negociação de joias e artigos de luxo que teriam sido subtraídos do acervo de presidência e depois vendidos, em um esquema supostamente liderado por Bolsonaro. Apesar de ter defendido Bolsonaro ao longo das investigações, em momento algum da nota o advogado nega a participação do ex-presidente nos supostos crimes. 

"A iniciativa da Polícia Federal de pedir meu indiciamento no caso dos presentes recebidos pelo ex-presidente é arbitrária, injusta e persecutória. É uma violência inominável e um atentado ao meu direito de trabalhar. Vazamentos anteriores da própria PF demonstraram cabalmente que eu jamais participei de qualquer negociação em torno da compra e venda dos presentes, que aliás só soube deles pela imprensa. Repito que apenas dei uma orientação jurídica para a devolução deles ao TCU, o que foi feito. Como assessor de imprensa e advogado do ex-presidente da República busquei informações com alguns auxiliares e ex-auxiliares dele sem jamais – repito, sem jamais – participar de qualquer tipo de negociação", escreveu o advogado. 

Leia a íntegra: 

"O meu indiciamento pela Polícia Federal se baseia na seguinte afronta legal: advogado, fui indiciado porque no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente, sendo que em toda a investigação não há qualquer prova contra mim. Sendo específico: fui indiciado pela razão bizarra de ter cumprido a Lei!

Explico.

Minha orientação advocatícia foi a de que os presentes recebidos pelo ex-presidente da República fossem imediatamente retornadas à posse do Tribunal de Contas da União, em defesa de qualquer dúvida sobre questionamentos em relação ao interesse público. E conselho jurídico não é crime. Minha sugestão foi acolhida e os presentes entregues imediatamente e integralmente recolhidos ao TCU.

Como está cabalmente comprovado, inclusive pela própria PF, só tomei conhecimento do fato após ser noticiado pela imprensa e agi com integridade profissional. Fui indiciado, como está provado, por cumprir a Lei!

Continuarei com meu trabalho advocatício e recorrerei à OAB para garantir meu direito constitucional de trabalhar sem intimidações e sem sofrer lawfare de natureza política.

Também recorrerei a todas as instâncias da Justiça para conter o abuso de poder e essa atitude arbitrária de um integrante da PF, que não pode ser confundido com a corporação como um todo.

Portanto, a iniciativa da Polícia Federal de pedir meu indiciamento no caso dos presentes recebidos pelo ex-presidente é arbitrária, injusta e persecutória. É uma violência inominável e um atentado ao meu direito de trabalhar.

Vazamentos anteriores da própria PF demonstraram cabalmente que eu jamais participei de qualquer negociação em torno da compra e venda dos presentes, que aliás só soube deles pela imprensa. Repito que apenas dei uma orientação jurídica para a devolução deles ao TCU, o que foi feito.

Como assessor de imprensa e advogado do ex-presidente da República busquei informações com alguns auxiliares e ex-auxiliares dele sem jamais – repito, sem jamais – participar de qualquer tipo de negociação. Tentar me incriminar é absurdo e revela a fragilidade das acusações sistematicamente feitas pela Polícia Federal nos últimos 18 meses.

A PF sabe que não fiz nada a respeito do que ela apura, mas mesmo assim quer me punir porque faço a defesa permanente e intransigente do ex-presidente Bolsonaro. Se a intenção é a de me intimidar, não conseguirão.

Ver o triunfo do Estado Policial por aqueles que se disseram vítimas dele, usado contra adversários políticos, certamente é um capítulo tenebroso de nossa Democracia e será devidamente corrigido, ao tempo e a hora, por nossas instituições". 

Wajngarten na 'fritura'

Quando falamos de Jair Bolsonaro, especialmente no período de perrengues que o ex-presidente enfrenta desde que foi derrotado nas urnas por Lula e caiu em desgraça total, sempre vem à cabeça o nome de Fabio Wajngarten, o fiel escudeiro do “capitão”, que durante seu governo ocupou por dois anos a Secom e, depois, tornou-se um de seus conselheiros mais próximos. Mas você deve ter notado que ele não esteve com Bolsonaro nas últimas viagens de arruaça do antigo ocupante do Palácio do Planalto, não é? Pois isso teria uma explicação.

O séquito de Bolsonaro começou a ver em Wajngarten alguém que tem uma espécie de “interesse pessoal” na proximidade com o ex-presidente e, desde então, ele vem sendo escanteado do convívio com o presidente. Seria um caso clássico de “fritura”, aqueles em que alguém se torna o culpado por todo o mal ocorrido e passa a ser desprezado e detestado.

Ainda que oficialmente Wajngarten esteja participando da campanha pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo, o pupilo de Bolsonaro não foi visto nos últimos atos importantes relacionados à empreitada política, como o anúncio do vice de Nunes, o ultrabolsonarista coronel Mello Araújo, por exemplo, em que pese os dois se odiarem. O ex-Secom também não esteve também na visita do ex-presidente ao Pará ocorrida no último fim de semana.

O que se ouve no mundo político da extrema direita também é que Wajngarten andou pressionando o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, para arranjar um cargo de secretário na área de comunicação do Executivo estadual paulista, o que resultou em mais uma “limada” por parte dos bolsonaristas de grosso calibre que cercam o carioca que se aventurou a governar o estado que sequer conhecia.

O fato é que Wajngarten, de bolsonarista fiscal de bolsonarismo, atacando ferozmente qualquer político que não bajule 24 horas por dia o líder da extrema direita nacional (e procurando “falhas morais” em todo e qualquer aliado para estigmatizá-lo como um bolsonarista não puro), agora vê-se largado na pista pelo “comandante”, a quem até pouco tempo servia como um arremedo de porta-voz.

No entanto, no entorno bolsonarista mais próximo e nos círculos de assessoramento jurídico de Bolsonaro, o fato de Wajngarten ser um sujeito que sabe de absolutamente tudo que se passou nos últimos anos envolvendo o ex-presidente é fator de preocupação, uma vez que uma delação dele poderia causar implosões incalculáveis no grupo.

Bolsonaro indiciado

A Polícia Federal indiciou nesta quinta-feira (4) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias furtadas do acervo público da Presidência da República que foram enviadas ao exterior para serem vendidas. Os investigadores concluíram o inquérito e enviaram os autos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, relator da ação, que agora encaminhará tudo à Procuradoria-Geral da República (PGR), para que o antigo ocupante do Palácio do Planalto seja levado ao banco dos réus.

Bolsonaro deve responder pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos. Junto com ele, outras 11 pessoas foram indiciadas. São elas Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-chefe da Secom, Frederick Wassef, também advogado do ex-presidente e de outro integrantes de sua família, Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia e almirante da reserva da Marinha, José Roberto Bueno Júnior, outro oficial-general da Marinha e ex-chefe de gabinete da pasta comandada por Albuquerque, Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal, Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência na gestão de Bolsonaro, Marcelo Costa Câmara e Osmar Crivelatti, ex-assessores pessoais de Bolsonaro, Marcos André dos Santos Soeiro, militar da Marinha e ex-assessor do ministro de Minas e Energia, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, antigo ajudante de ordens do ex-presidente, e o pai deste último, Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva do Exército Brasileiro e homem de confiança do último mandatário nacional.

A investigação contou com o auxílio, desde abril deste ano, do FBI, espécie de polícia federal dos EUA, uma vez que parte das joias desviadas foi parar em território norte-americano e chegou até mesmo a ser negociada e vendida lá. Mauro Cid disse em sua delação que seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, teria dado um pacote de dólares a Bolsonaro em setembro de 2022, durante uma viagem oficial do então chefe de Estado a Nova York, por ocasião da cerimônia de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. O dinheiro seria fruto da venda de um relógio de luxo da marca Rolex.

A somatória das penas de todos os crimes pode resultar numa condenação elevada para Bolsonaro, que tem grandes chances de ser colocado na cadeia em caso de uma sentença em seu desfavor. O ex-presidente não se pronunciou até o momento sobre o indiciamento pela PF.