A Receita Federal e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) demoraram 3 dias para atender ao pedido feito pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 25 de agosto de 2020, durante a famigerada reunião em que foi gravado por Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na ocasião discutia formas de beneficiar seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), nas investigações das quais era alvo por suspeita de rachadinha em seu gabinete na Alerj, em mandato anterior como deputado estadual.
Na reunião, cuja gravação foi tornada pública na última segunda-feira (15) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro pediu, com todas as letras, que as autoridades fiscais fossem acionadas contra os auditores que teriam feito um relatório sobre os dados fiscais de Flávio e disparado as investigações.
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Três dias depois, em 28 de agosto, Receita e Serpro abriram investigação interna sigilosa para identificar os auditores.
A reunião contou com a participação de Bolsonaro, Ramagem, Augusto Heleno (ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e duas advogadas de Flávio: Luciana Pires e Juliana Bierrenbach. As profissionais apostavam num possível vazamento de dados em sua estratégia de defesa. Elas queriam descobrir se foram esses auditores que passaram as informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão que deu origem ao inquérito que atinge também o ex-assessor Fabrício Queiroz. Aquele dos cheques e do escritório de Frederick Wassef em Atibaia (SP).
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Ao longo da reunião, que não estava na agenda oficial, Bolsonaro sugeriu por diversas vezes acionar o então chefe da Receita, José Tostes, que se encontrou com as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach no dia seguinte. Ele também recebeu o próprio Flávio Bolsonaro.
Num trecho crítico da conversa, aos 48 minutos, após tratarem longamente de um caminho para descobrir quem são os auditores da Receita Federal que chegaram a relatórios contra o senador Flávio Bolsonaro, o então presidente da República diz diretamente no diálogo para procurar o chefe do Dataprev, Gustavo Canuto, que foi ministro do Desenvolvimento Regional no governo Bolsonaro. A sugestão é para uma finalidade obviamente ilegal.
Naquele momento, a reunião já estava se encaminhando para o final e, aos 51 minutos de gravação, Bolsonaro anuncia que precisa sair porque "mais de cinquenta empresários" o aguardavam. Os presentes então começam a definir tarefas, quando o ex-presidente dispara: "O que acontece, o que acontece? Ninguém gosta de tráfico de influência".
A ironia da afirmação é que ela foi feita, exatamente, no momento em que Bolsonaro praticava tráfico de influência.
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