Ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) correu para as redes sociais após chilique de Jair Bolsonaro (PL) com a gravação da reunião com Augusto Heleno, ex-Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para tramar ofensiva contra os servidores da Receita Federal que desnudaram o esquema das "rachadinhas" de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O ex-presidente teria surtado e reagido aos berros ao se deparar com a informação de que o então chefe da Abin - fiel escudeiro do clã desde a campanha de 2018 - teria feito uma gravação de 1 hora e 8 minutos da reunião em que ele tratou com Heleno para "achar podres e relações políticas" dos agentes da Receita responsáveis pelo relatório que identificou o esquema de corrupção das "rachadinhas" no gabinete de Flávio.
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Antes mesmo da revelação do conteúdo pela PF, a divulgação da informação abalou a relação de Bolsonaro e colocou em xeque a candidatura de Ramagem, com o apoio do clã, para a Prefeitura do Rio.
Na manhã desta sexta-feira (12), Ramagem foi às redes e acusou a Polícia Federal de "levar à imprensa ilações e rasas conjecturas" para criar cizânia na relação com Bolsonaro.
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"Trazem lista de autoridades judiciais e legislativas para criar alvoroço. Dizem monitoradas, mas na verdade não. Não se encontram em first mile ou interceptação alguma. Estão em conversas de whatsapp, informações alheias, impressões pessoais de outros investigados, mas nunca em relatório oficial contrário à legalidade", diz.
Em seguida, Ramagem diz que "não há interferência ou influência em processo vinculado ao senador Flávio Bolsonaro".
"Há (SIC) menção de áudio que só reforça defesa do devido processo, apuração administrativa, providência prevista em lei para qualquer caso de desvio de conduta funcional", emenda.
Alçado ao comando da agência de inteligência por influência de Carlos Bolsonaro (PL-RJ), com quem divide as atenções da PF nas investigações sobre a Abin Paralela, Ramagem ainda se vitimizou e e concluiu dizendo que segue candidato à prefeitura do Rio.
Aliados de Bolsonaro já defendem que ele abandone a candidatura diante das provas robustas reveladas pela PF.
"No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro".
Entenda o caso
Segundo a PF, a reunião entre o "então Presidente da República Jair Bolsonaro, GSI Augusto Heleno e possivelmente advogada do senador Flávio Bolsonaro" foi "possivelmente gravada pelo Del. Alexandre Ramagem".
"Neste áudio é possível identificar a atuação do Del. ALEXANDRE RAMAGEM indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da receita (Escor07) com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos", diz o relatório.
A apreensão e a fúria de Bolsonaro se dá porque a PF ainda não divulgou o conteúdo da reunião de 25 de agosto de 2020 - transcrito na IPJ N° 2404151/2024.
Segundo informações de Bela Megale, aliados teriam dito que Bolsonaro reagiu aos gritos e mostrou indignação por ter sido alvo da arapongagem por ele próprio para investigar desafetos, jornalistas, adversários e até aliados políticos.
Em meio ao ataque de fúria, Bolsonaro teria questionado como o chefe da Abin grava um presidente, em mais um arrombo de soberba.
A fúria de Bolsonaro se dá porque a divulgação do conteúdo pode colocar em xeque a estratégia de defesa, de montar uma narrativa "generalizada sem especificar com detalhes" as provas obtidas pela PF nos diversos inquéritos que o investigam.
A estratégia passa por aprofundar a propagação da narrativa vitimista, mantendo a horda de extremistas mobilizada para criar caos político, caso seja preso.
No entanto, o conteúdo da reunião em que pede pessoalmente para a Abin "achar os podres" dos servidores da Receita para interferir na investigação sobre corrupção contra o filho pode provocar uma hecatombe e atingir até mesmo os radicais que o apoiam.
Nesta quinta-feira (11), após a divulgação da informação, Flávio Bolsonaro tentou minimizar o caso, dizendo que "nada mudou no Rio" - em relação à candidatura de Ramagem à prefeitura com o apoio do clã - e que a PF faz "tempestade em copo d’água".
"Nada mudou no Rio. Temos a convicção que estão fazendo tempestade em copo d’água. Não tem nada de ilegal ou errado de toda essa situação envolvendo a Abin. Temos a consciência de que, diferentemente do atual governo, não usamos o aparato público para perseguir opositores político", disse o senador a'O Globo.
No entanto, a declaração é uma forma do próprio Flávio tentar colocar panos quentes na situação que ele mesmo criou.