A investigação interna conduzida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) sobre a administração do general Mauro Lourena Cid no escritório da agência em Miami apontou diversas irregularidades. A comissão apurou os indícios com base em depoimentos de 16 pessoas e análise de documentos. após concluir a apuração.
Apesar de sua natureza privada, a Apex recebe recursos públicos do Sistema S e, por isso, está sujeita à fiscalização do TCU e à prestação de contas à corte. Em 2022, o orçamento da agência atingiu R$ 1,3 bilhão. Entre os desvios encontrados pela agência, estão o afastamento das responsabilidades do cargo, o uso inadequado da estrutura da agência para transações envolvendo joias, além da promoção de agendas com conotações golpistas, segundo a coluna de Aguirre Talento, no UOL.
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As conclusões do trabalho serão encaminhadas à Polícia Federal e ao Tribunal de Contas da União (TCU), que detém o poder de solicitar a devolução de recursos caso os desvios sejam comprovados. Cid, colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras nos anos 1970, foi designado por Bolsonaro para chefiar o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami, em 2019, após sua ida para a reserva. Cid é alvo de investigação após a confirmação de que utilizou recursos da agência para visitar o acampamento de apoiadores golpistas no quartel-general do Exército no final de 2022.
De acordo com agência, “o general, que segundo as investigações da PF atuou como suporte do filho, coronel Mauro Barbosa Cid, e do ex- presidente Jair Bolsonaro na negociação desses bens, utilizou a estrutura do EA [escritório] para atividades não relacionadas à função de general manager (GM). Isso ocorreu antes e depois de sua demissão do cargo, em 3 de janeiro de 2023."
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Segundo a apuração da Apex, foi constatada a resistência do general em devolver seu celular e computador funcionais, cujos dados foram apagados de maneira irregular, conforme relatado. A documentação ressalta que esses equipamentos devem seguir procedimentos padrão de devolução e apagamento de dados, realizados por uma empresa contratada de tecnologia da agência para garantir sua integridade.
Além disso, o passaporte oficial do general, com visto de trabalho vinculado à ApexBrasil, não foi devolvido. Testemunhos também indicam que o general continuou acessando a sede do escritório nas semanas subsequentes à sua demissão. De acordo com a Apex, o ex-gerente geral do escritório de Miami, o general Mauro Lourena Cid, repetidamente manifestava aos funcionários sua convicção de que, mesmo após a eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tomaria posse, e que ele próprio permaneceria à frente do escritório da Agência.
“Na avaliação da Comissão, tal expectativa pode ser lida a partir da ruptura institucional que, na ocasião, articulava-se em setores militares e que culminou na tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023. A reforçar essa constatação, está a visita de Cid ao acampamento golpista situado em frente ao QG do Exército, em Brasília, em 3 de dezembro de 2022, acompanhado de dois funcionários do escritório de Miami"
Segundo a comissão encarregada da investigação interna, ao desviarem suas funções e ao estarem presentes em um local onde se articulava um movimento golpista, esses funcionários também violaram normas da Apex, incluindo o Código de Ética.
“As apurações da Comissão confirmaram notícias publicadas na mídia sobre a contratação, pelo EA [escritório] Miami, do médico de Jair Bolsonaro, que segundo relatos colhidos, foi imposto à equipe, contratado pela sede em Brasília e expatriado por meio de instrumentos de excepcionalidade (memorando, portaria e carta oferta) em abril de 2022. O médico não desenvolvia qualquer atividade profissional que mantivesse ligação com o cargo de assessor, e nem frequentava as dependências do escritório. O fato configura uma contratação fraudulenta”
Roubo de joias
No documento enviado ao STF constam mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais fica claro que ambos discutiam a melhor maneira de fazer o dinheiro da venda ilegal das joias chegar até o ex-presidente. Em dado momento, Cid sugere evitar transferências bancárias, que deixa rastros, e propõe entregar os valores a Bolsonaro "em cash", isto é, em espécie.
O diálogo via WhatsApp entre Cid e Câmara foi registrado em 18 de janeiro de 2023, quando o ex-assessor estava com Jair Bolsonaro em Orlando, nos EUA. Na conversa, Cid tenta organizar o repasse ao ex-presidente, revelando que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, que teria negociado venda de joias no país da América do Norte, possuía R$ 25 mil de uma dessas vendas.
“Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?", afirmou Cid.
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